14 de junho de 2022

O que é a cochonilha do café?

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Seguindo nossa série sobre “Pragas e Doenças do Cafeeiro”, vamos apresentar hoje quem é a cochonilha.

Nenhum produtor está blindado do surgimento de pragas e doenças na lavoura, mas a consciência do problema é o primeiro passo para a solução, juntamente com a informação. No que diz respeito às cochonilhas, podemos encontrar mais de uma espécie, que possuem ocorrências imprevisíveis nas lavouras.

Sem contar que o aparecimento das cochonilhas é comum em todas as regiões biogeográficas do mundo, e também em todas as regiões do Brasil. Por isso vem aprender um pouco mais com o PDG Brasil sobre essa pequena praga que pode atacar desde o cafeeiro até as flores de seu jardim.

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pragas do cafezal

Cochonilha do café

Sebastião Vinícius Batista Brinate é engenheiro agrônomo, doutor em Produção Vegetal / Café e sócio proprietário da LSW Consultoria, que fica na região do Caparaó (ES). Ele explica que, dentre as pragas mais comuns que acometem os cafeeiros brasileiros, estão as cochonilhas. E, dentro das espécies delas há: Coccus viridis cochonilha verde, Planococcus citrie / Planococcus minor cochonilha branca, e Dysmicoccus cryptus cochonilha-de-raiz.

Segundo a Revista Cultivar, nos cafeeiros brasileiros podemos encontrar até 16 tipos diferentes de cochonilhas, sendo que sete delas atacam especificamente nas raízes da planta, e as outras nove em sua parte aérea.

É fato que o cafeeiro pode ser atacado por diversas espécies diferentes de cochonilhas, nas diversas partes da planta: raiz, caule, folhas e frutos. Das espécies que atacam a parte aérea do cafeeiro, temos as cochonilhas brancas, verdes e pardas (que geralmente atacam folhas, ramos, flores e até frutos), e a cochonilha da raiz, que ataca justamente a raiz do cafeeiro.

Sobre a incidência das cochonilhas e momentos favoráveis a isso, Sebastião esclarece:

  • cochonilha verde: tem sua ocorrência verificada no período chuvoso;
  • cochonilha branca: ocorre mais no fim desse período, a partir de março;
  • cochonilha da roseta: no período de inverno se hospeda no solo e a partir do momento que o cafeeiro “desperta” e vem a floração, ela migra para as “rosetas” dos ramos;
  • cochonilha da raiz: tem sua ocorrência observada no período de inverno, onde a planta também apresenta os sintomas da infestação.

Tenha em mente que a cochonilha tem seu ataque bastante evidenciado em períodos ou situações de desequilíbrio, seja climático, com estiagens prolongadas; e nutricional, principalmente relacionado ao nitrogênio e uso desorientado de defensivos, que acabam eliminando os inimigos naturais.

E Sebastião reforça: “essa praga se hospeda também em outras plantas, principalmente frutíferas, então temos que ficar atentos em áreas vizinhas ou até mesmo em plantios consorciados”.

cochonilha do cafeeiro

Características da praga

“A utilização de fertilizantes sem critérios técnicos pode impactar diretamente na incidência de pragas e doenças”, conta Sebastião.

“No caso da cochonilha, o fornecimento de nitrogênio além do necessário pode ocasionar aumento da disponibilidade de nitrogênio no floema do cafeeiro, aumentando assim os teores de aminoácidos e carboidratos, que são a principal fonte alimentar dessas pequenas pragas.”

O ataque da cochonilha, se não manejado, pode ocasionar sérios impactos na produtividade da planta.

“Ela se aloja nos ramos e na nervura principal das folhas do cafeeiro, perfura as folhas com seu aparelho bucal succionando a seiva. Dessa forma temos o primeiro impacto, onde a seiva que seria utilizada pela planta para suas funções vitais, é succionada pela cochonilha.”

Outro problema se dá na injeção de toxinas no sistema vascular do cafeeiro que acontece no ato da sucção. Diante disso, o ataque dessa praga causa o definhamento das plantas, queda de folhas e redução na produtividade.

Ao succionar a seiva da planta, a cochonilha excreta substâncias açucaradas que atraem fungos do gênero Capnodium (conhecido como fumagina), que recobrem as folhas com uma camada escura, reduzindo a fotossíntese das plantas.

Quando alojada nos frutos, a cochonilha causa o mal desenvolvimento deles e até a perda da roseta por inteiro, trazendo sérios danos à produtividade do cafeeiro.

Em situações de ataque verificados na raiz, se não manejado, a cochonilha se prolifera e espalha por todo sistema radicular comprometendo-o, e levando a planta a princípio a amarelar, podendo chegar posteriormente à morte.

cochonilha do café

Como identificar essa praga na lavoura?

Verdade seja dita, plantas devem ser monitoradas e acompanhadas periodicamente, principalmente quando se trata de uma lavoura, seja de café ou de outro tipo de cultivo.

No caso das cochonilhas, Sebastião traz algumas dicas para identificar essa praga na lavoura ainda em sua fase inicial: 

1 – Raiz

“A partir do momento do plantio, quando se notam reboleiras de plantas amarelando, deve-se verificar a raiz, na base do colo, onde geralmente as cochonilhas se alojam.”

2 – Parte aérea

“O monitoramento da parte aérea também deve ser efetuado constantemente, observando e analisando a presença de filamentos esbranquiçados no ramos e rosetas.”

3 – Presença de formigas, melado e fumagina

“Outra forma importante de se identificar o ataque das cochonilhas é através da verificação da presença de formigas na planta e de uma substância melada em suas folhas, que escurecem com o aparecimento da fumagina, um fungo escuro que se desenvolve nessa substância açucarada.”

O ataque das cochonilhas é sempre muito imprevisível, pois ela pode ser transportada pelo vento, pelas formigas que se alimentam da secreção açucarada que expelem (em inglês, “honeydew”), e por meio do caminhamento. A infestação ocorre em reboleiras, onde alguns talhões podem sofrer ataques mais intensos enquanto em outros não se nota sequer sua presença.

Por isso é muito importante que se faça o monitoramento periódico da cultura para detectar a infestação desta praga, ou de qualquer outra, ainda no início.

como prevenir cochonilha do café

Tratamento e dicas preventivas

Ao identificar a praga na lavoura, o primeiro passo a ser tomado com extrema urgência, é buscar orientação de um profissional especializado, um bom engenheiro agrônomo, para que possa analisar a situação em campo, verificar o nível de dano e a ocorrência de inimigos naturais potenciais para um controle biológico.

Porém Sebastião nos conta que, como a cochonilha ataca sempre em situações de desequilíbrio, sua proliferação acontece de forma rápida, necessitando geralmente de uma intervenção com defensivos químicos.

“O principal manejo é a aplicação de inseticidas sistêmicos via solo, no período da entrada das águas. Para o ataque em parte aérea da planta (folhas, ramos e frutos), deve ser adotada a utilização criteriosa de inseticidas via pulverização, de preferência associados com algum espalhante desalojante, adotando sempre alto volume de calda, de forma a promover um bom e eficiente molhamento da planta.”

As cochonilhas possuem alguns inimigos naturais: predadores, parasitóides e fungos entomopatogênicos. As joaninhas e crisopídeos são exemplos muito importantes no controle natural da cochonilha, e muitas vezes impedem que a praga cause danos econômicos em cafezais.

Porém, em algumas ocasiões, esses inimigos naturais não são capazes de manter a densidade populacional da praga abaixo do nível de dano econômico, sendo necessário intervir com outras medidas de controle, como o uso de inseticidas. 

Contudo, as táticas de controle devem sempre favorecer a preservação desses agentes de controle biológico na lavoura.

como evitar cochonilha

A melhor dica que pode ser adotada, segundo Sebastião, é ter sempre a orientação de um bom engenheiro agrônomo, principalmente quando algo de errado estiver acontecendo em sua lavoura.

Dessa forma é possível desenvolver um manejo nutricional e fitossanitário da lavoura, para que ela se desenvolva em equilíbrio, e esteja preparada para enfrentar situações adversas de clima e ataque de pragas.

Lavoura em equilíbrio e preparada para as adversidades, combinada com um produtor informado e respaldado pelo suporte técnico de um engenheiro agrônomo, pode ser a melhor ferramenta de prevenção e combate que você vai encontrar durante as adversidades.

Créditos: Banco de imagens (destaque: cochonilha; cafeeiro atacado por cochonilhas, tanto nas folhas como no caule); Sebastião Vinícius Batista Brinate (em campo).

PDG Brasil

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