2 de maio de 2022

O que esperar do clima para a colheita do café no Brasil?

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As principais regiões do país já estão se preparando para o início da colheita da safra 22 de café arábica. E, após tantos problemas climáticos envolvendo o ciclo, fomos entender como as condições do tempo podem interferir no período mais importante da produção: como garantir uma colheita que além de minimizar os custos, evitar desperdícios e salvar a produtividade, resulte também em um café de qualidade? 

Siga lendo para entender a importância do clima para a colheita e para conhecer as expectativas climáticas para os próximos meses. 

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colheita de café

Expectativas da safra 

De modo geral, a colheita das áreas de café arábica começa após a segunda quinzena do mês de maio nas principais regiões produtoras do país. O ritmo, no entanto, vai depender do grau de maturação do grão. 

Neste ano é esperado que, além da produção em menor escala, o produtor tenha um pouco mais de trabalho na colheita, já que a florada, lá no mês de outubro, foi irregular em algumas áreas do parque cafeeiro. 

Ainda assim, para muitos produtores e das mais diversas regiões, os tratos culturais foram mantidos e, apesar da expectativa frustrada de uma super produção, a esperança de uma safra de qualidade ainda é uma realidade e, com bons tratos, clima ideal e um pós-colheita bem feito, pode trazer mais rentabilidade para um ano como o de 2022 que já começou com inúmeros desafios para o setor. 

colheita de café

A importância do clima para a colheita do café

Segundo dados da Embrapa Café, a principal evidência da maturação é a mudança da cor da casca. “No café, ela transita do verde para vermelho ou amarelo, de acordo com a variedade. Isso é o resultado da intensificação das atividades respiratórias, produção do etileno e, na sequência, a degradação da clorofila e síntese de pigmentos, como carotenóides e antocianinas”, afirma um artigo da instituição. 

Williams Ferreira, pesquisador da Embrapa Café, explica que, dependendo da qualidade da bebida que se quer obter, o clima passa a ser fundamental. “Na maior parte das regiões produtoras o período mais seco vai desde março ou abril e pode seguir até setembro nos locais de maiores altitudes, onde há mais frio e o café leva mais tempo para alcançar a condição cereja”, explica. 

Apesar da tradição das áreas de produção indicarem o início dos trabalhos a partir de maio, vale ressaltar que o ideal é que a colheita comece quando a lavoura apresentar de 80% a 90% dos frutos maduros. 

“Uma vez iniciada a colheita, o cafeicultor deve se atentar para derriçar todos os frutos das plantas, se possível com repasse, sem quebrar ramos e arrancar folhas, pois tais danos poderão ocasionar estresse nas plantas e, consequentemente, torná-las suscetíveis ao ataque de pragas e incidência de doenças, comprometendo dessa forma futuras safras”, acrescenta uma publicação da Embrapa Café com orientação para uma colheita bem sucedida. 

Como estamos falando do Brasil, onde a derriça no pano é a forma mais tradicional dos grãos, a condição ideal é de tempo seco. Além de torcer para condições do tempo dentro do ideal, o produtor precisa considerar a necessidade de transportar o café dentro de quatro horas para o local de preparo e processamento.

Não podemos esquecer que o início da secagem acontece nos terreiros e esse é o sistema de trabalho mais utilizado nas fazendas brasileiras. “Ele apresenta custo de implementação quando comparado aos secadores mecânicos, além de ser de fácil manejo. Todavia, o café nesse sistema é exposto às variações do tempo e por isso, quanto mais seco estiver o tempo melhor”, acrescenta.

Outro fator climático importante para garantir a boa secagem dos grãos, é a umidade relativa do ar mais baixa. Na região do Cerrado Mineiro, por exemplo, potência na produção de cafés especiais, as condições do tempo muito seco e baixa umidade relativa em boa parte do período da colheita, ajudam e muito no diferencial da região. “Quanto menor a umidade relativa, mais rápido ocorre a secagem do café e melhor é o potencial de qualidade final a ser alcançado para a bebida”, comenta Williams.  

clima para a colheita de café

Mas como fica o clima para o início da colheita? 

Até o dia 21 de junho, o cafeicultor vai observar a fase de transição entre a estação mais úmida do ano (verão), para a estação mais seca (inverno). A estação atual, o outono, é tradicionalmente marcada pela redução gradual da precipitação e temperaturas mais baixas pelo país, incluindo as áreas de café arábica. 

Devido ao tempo mais seco, também é durante o outono que se observa os níveis de umidade relativa do ar mais baixo, normalmente entre 20% e 30%, mas podendo ficar ainda mais baixo à medida que os dias passam sem chuva. 

A boa notícia para o produtor é que as previsões mais recentes do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) indicam que para região Sudeste a previsão é de chuvas dentro ou pouco abaixo do esperado pela climatologia. 

Quando se fala em temperatura, os modelos indicam temperatura dentro do ideal, mas alerta para o sul de Minas Gerais e de São Paulo, onde podem ocorrer picos abaixo da média. 

“Segundo o meteorologista Cleverson Freitas, também estão previstos bons níveis de umidade do solo para a região Sudeste, com exceção do Norte de Minas Gerais (MG), com valores acima de 70% nos meses de abril e maio”, afirma o Inmet. 

No mapa acima podemos observar o prognóstico do Inmet para os meses de abril, maio e junho. O modelo de anomalias de precipitação, que demonstra a quantidade de chuva prevista e se fica dentro da normalidade para o setor, nos mostra que em Minas Gerais, por exemplo, a tendência é de chuva ligeiramente abaixo da média nos próximos dois meses. 

O mapa mostra duas exceções, mas nada muito significativo, para o norte mineiro com até 10 mm acima do esperado e no extremo sul onde as chuvas podem ficar entre 10 mm e 50 mm abaixo do esperado no período. 

Para a região Sudeste, o Inmet acrescenta também que a temperatura do ar deverá prevalecer próxima e ligeiramente acima da climatologia do período, porém não se descarta a possibilidade da entrada de massas de ar frio que poderão diminuir as temperaturas em localidades de maior altitude, a partir do mês de maio.

Nas áreas paulistas de produção, o modelo também mostra condição dentro do ideal, sem grandes alterações. Parte de São Paulo pode ter chuva abaixo do ideal, mas, de acordo com produtores da região, as chuvas do início do ano foram suficientes para a recuperação da reserva hídrica. 

O mesmo é observado para áreas de produção no estado do Paraná – outro estado que sofreu e muito com a falta de chuva e temperaturas elevadas dos últimos dois anos. 

clima e colheita

E as temperaturas? 


O Inmet também disponibiliza mapas de anomalias de temperaturas, que podem ou não indicar temperaturas fora do que é esperado pela climatologia. É importante salientar, no entanto, que os modelos com base nos últimos anos não fazem a previsão de entrada de frente fria ou massa de origem polar – os dois sistemas que costumam dar origem aos episódios de geadas como o produtor observou no ano passado. 

Para Minas Gerais, o modelo de previsão para o trimestre abril, maio e junho, mostra temperaturas dentro da normalidade em boa parte do estado, com exceção de pontos isolados que podem registrar quatro graus acima do esperado.  

Já em São Paulo, boa parte do estado pode ter temperaturas ligeiramente acima da média, enquanto no Paraná, até o momento, a tendência é de normalidade. 

“A temperatura do ar na Região Sul deverá prevalecer próxima e acima da climatologia do período, porém não se descarta a possibilidade de haver a incidência de geadas, principalmente em áreas serranas, à medida que se aproxima do inverno”, afirma a previsão. 

clima e café

Com essas informações, o produtor e a produtora de café conseguem iniciar seus planejamentos de colheita e dar início ao momento mais importante da safra. Que o clima contribua para uma colheita farta e com a qualidade que o Brasil é capaz de apresentar na xícara. 

Créditos: mapas Inmet. 

PDG Brasil

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