Cafeicultura regenerativa. Se você acompanha mais de perto a produção e o mercado de café, sabe que o termo tem ganhado destaque nos últimos meses. Com base em uma cafeicultura que tem como propósito cuidar das áreas de produção, as quatro certificações existentes no mundo hoje foram concedidas a fazendas brasileiras. 

Buscando entender como funciona a cafeicultura regenerativa na prática e as oportunidades que isso traz ao café brasileiro, o PDG Brasil conversou com produtores e um analista de mercado. Continue lendo para saber o que disseram. 

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Sustentabilidade na cafeicultura brasileira

Antes de tudo, é preciso destacar que atualmente a cadeia produtiva do Brasil vem buscando aprimorar de certa forma as práticas agrícolas a fim de atender um mercado, que como já mencionado, é cada vez mais exigente. O foco é principalmente encontrar boas práticas que diminuam o impacto da produção no meio ambiente e consequentemente minimizem as ocorrências climáticas extremas, mais frequentes nos últimos dois anos e uma preocupação do produtor que já está trabalhando na safra de 2023. 

O Brasil mostra que está atento às exigências internacionais, tendo as quatro únicas fazendas de café do mundo com certificação internacional de cafeicultura regenerativa. 

Um exemplo é o Regenagri, que tem como foco reconhecer as fazendas que fazem café de qualidade, com responsabilidade ambiental, social e econômica, e principalmente práticas que garantam a saúde e a preservação do solo. 

A certificação atende os critérios internacionais da Control Union, certificadora britânica, que atua na melhoria contínua para implementar e acompanhar as boas práticas agrícolas, avaliando a responsabilidade ambiental, garantindo que as fazendas cultivem de forma sustentável, com conservação e saúde do solo. 

Atualmente a Control Union está presente em mais de 70 países, que também avalia as tecnologias aliada às ações sustentáveis com foco na agricultura conservacionista. Especialistas explicam que se trata de uma prática com redução de agroquímicos, produção de melhor qualidade, equilíbrio do bioma, redução das emissões de carbono e diminuição dos custos de produção. 

As quatro fazendas certificadas estão localizadas na região do Cerrado Mineiro, sendo elas: Fazenda Dois Irmãos, Fazenda Farroupilha, AgroBeloni e a Guima Café, do grupo BMG. O Cerrado, que se destaca em termos de boas práticas e cafés de qualidade, com a certificação também entra com o pé direito um mercado ainda em expansão, mas que pode ser muito promissor para o cafeicultor brasileiro. 

Retorno imediato

De olho na demanda internacional, Castello Branco Ribeiro Filho, analista de mercado da Expocaccer, conta que os importadores vêm mostrando bastante interesse em relação a essa prática, além de ressaltar que o consumidor final cada vez mais questiona sobre os novos projetos e as boas práticas agrícolas.

“De retorno para o produtor, como é identificado um trato diretamente no solo, podemos considerar esse café mais sustentável e com ganhos de produção e qualidade. Como é um mercado novo, em termos de prêmio e precificação, é algo que ainda vem sendo construído e consolidado entre todos da cadeia”, afirma ao PDG Brasil. 

Como obter a certificação? 

Conversamos também com três representantes das quatro fazendas certificadas no mundo. Para alguns deles as boas práticas foram adotadas há muito tempo e a certificação chega mesmo como um reconhecimento pelo trabalho que vem sendo feito em prol de um agronegócio mais sustentável. 

A certificação da fazenda AgroBeloni se destacou entre as mídias especializadas nos últimos meses. Isso porque a fazenda foi a primeira a conquistar a certificação no mundo, e recentemente também foi o primeiro café brasileiro exportado para esse mercado. 

A fazenda, empresa familiar na sua terceira geração de produção, além de uma produção sustentável, também é referência no Cerrado com os cafés de qualidade. Elessandra Beloni, gestora de qualidade de cafés especiais do grupo AgroBeloni, afirmou que a conquista foi um grande trunfo de um trabalho feito sempre com muito respeito ao meio ambiente. A certificação foi concedida em dezembro de 2021, após cinco anos de uma série de mudanças na rotina da fazenda. 

“Quando você traz a própria cafeicultura a seu favor, tudo conspira para ser melhor, é a natureza fazendo o seu trabalho. Você trabalha mais com os inimigos naturais, tudo em harmonia, menos uso de adubos químicos e mais uso de adubos orgânicos e uso de compostagem”, explica. 

Entre as vantagens da cafeicultura regenerativa, a produtora destaca justamente a redução de insumos químicos, a melhoria crescente da qualidade dos solos, a produção de alimentos de melhor qualidade, a diminuição dos custos de produção, o equilíbrio do bioma e a redução das emissões de carbono. 

“O certificado regenerativo foi bastante celebrado, pois valida as práticas sustentáveis do equilíbrio de todo o bioma cultivado. É o reconhecimento das nossas iniciativas no campo pela certificadora e pelo consumidor”, afirma. 

O primeiro embarque de café regenerativo aconteceu em agosto deste ano (2022), com destino para mercado em expansão, o Japão e para um mercado já tradicional do Brasil, a Inglaterra. Segundo informações da Expocaccer, além da certificação, os lotes enviados também se destacam pela qualidade da bebida, sendo direcionados para clientes do segmento de cafés especiais. 

Gabriela Barakat, da Fazenda Dois Irmãos, é um exemplo de produtora que desde que assumiu a propriedade passou a trabalhar com base nas práticas ESG, garantindo uma sustentabilidade de ponta a ponta.
“Tradicionalmente sempre foi o manejo adotado em nossas propriedades e tudo isso com foco para garantir a preservação do solo e a sustentabilidade de tudo o que está envolvido dentro da propriedade. Ou seja, garantir a saúde da terra e o bem-estar daqueles que nela vivem”, comenta. 

A conquista chegou em maio deste ano, dando um novo suporte de negociação nesse mercado em crescimento. Gabriela confirma que os compradores de fato estão buscando por esse tipo de produto. Em se tratando de negócios, Gabriela comenta que as boas práticas também resultaram em custo de produção adequado para os parâmetros da Fazenda Dois Irmãos. “Em relação à qualidade da bebida, o sistema regenerativo nos proporciona ferramentas para a obtenção de cafés especiais”, complementa. 

Em junho deste ano, o Guima Café, do grupo BMG, também conquistou pela primeira vez a certificação. Lucimar Silva, COO do Guima Café, explica que o reconhecimento chegou para coroar os trabalhos que estão sendo feitos dentro de um projeto de expansão de cafeicultura sustentável que contempla as três fazendas do grupo BMG. 

“Temos trabalhado fortemente nesse sentido, para de fato fazermos algo relevante em nossas propriedades, com foco na produção de cafés de forma responsável, através da cafeicultura regenerativa, atendendo as necessidades do presente e cuidando do futuro”, afirma. Para a especialista, o grande diferencial para conseguir a certificação é justamente entender o processo da produção de café no longo prazo, sobretudo as práticas adotadas no passado. 

Dentro da filosofia de trabalho, Lucimar explica que a origem do que foi feito até alguns anos atrás, é o que agora está direcionando a adoção de novas práticas e soluções que sejam eficientes, usando como base a ciência que oferece os indicadores mais seguros para uma boa tomada de decisão. 

“Acreditamos que a cafeicultura regenerativa é um passo fundamental para fortalecermos o trabalho que desenvolvemos por aqui nos últimos anos, de buscar o equilíbrio econômico, social e ambiental, além de zelar pelo futuro do planeta e das novas gerações”, acrescenta. 

Créditos: Divulgação Guima Café (cafezal regenerativo/destaque; mulheres na entrelinha do cafezal; balaio com frutos maduros; cafezal e frutos maduros); Divulgação Dois Irmãos (caixa de abelha em meio ao cafezal; Gabriela no terreiro; florada; balaios e terreiro suspenso com frutos maduros; muda de café); Divulgação AgroBeloni (Elessandra no terreiro; cafeeiro produtivo com frutos amarelos; cafezal e mata preservada vistos do alto).

PDG Brasil

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