Entendendo os diferenciais das chaleiras bico de ganso
Todo dia a gente faz tudo sempre igual. Depois de acordar, uma das primeiras tarefas da manhã é colocar a água do café pra ferver. Com você também é assim?
Essa ação trivial, que repetimos diariamente, é quase automática. Mas, exatamente por ser algo tão simples, talvez a gente nunca tenha reparado muito como é importante essa fase do preparo do café.
De alguns anos para cá, no entanto, buscamos o melhor dessa experiência de preparar um café mais gostoso e fresquinho dentro de casa e na cafeteria. Percebemos que, dos suportes para filtros aos moedores, do filtro de papel à qualidade da água, todo detalhe pode fazer diferença na nossa xícara.
Um desses detalhes que vêm chamando a atenção dos apreciadores e baristas são as chaleiras bico de ganso, aquelas de bico longo e fino. Não apenas pela beleza desse recipiente, mas também pela eficiência que elas trazem no preparo de café.
Então coloca a água pra ferver por aí, prepare um café e venha com a gente descobrir mais sobre esse tema. Para ajudar, o PDG Brasil conversou com dois baristas brasileiros que utilizam esse tipo de chaleira e são apaixonados por cafés coados. Siga lendo para descobrir o que eles nos contaram.
Você também pode gostar de ler Cinco versões imperdíveis de brigadeiro para harmonizar com café.

O sucesso dos métodos coados
Uma das grandes conquistas da terceira onda do café foi a valorização dos métodos de preparar café filtrado. Percebeu-se como é possível ter uma experiência exclusiva e repleta de nuances de aroma e sabor sem a necessidade de equipamentos que requerem altos investimentos financeiros e uma infraestrutura específica.
O barista Anderson Meireles trabalha com café há cinco anos, quando trocou as salas de aula de uma escola de Teologia pelos balcões das cafeterias. Atualmente, também é torrefador, professor e consultor. “Sou apaixonado pelas possibilidades dos métodos manuais. Meu preferido do momento é o N4 de porcelana da Melitta”, conta. Nas suas redes sociais, Anderson prepara diariamente cafés coados, de diferentes maneiras, mostrando toda essa versatilidade.

Maycon Alves é gestor de negócios, barista e criador do grupo Diário de um Coffee Lover, que promove troca de conhecimentos e compras coletivas de café e utensílios. Há cinco anos no mercado de café, Maycon também considera os cafés filtrados seus favoritos.
Dono de inúmeros utensílios de preparo, ele gosta de testar diferentes receitas para cada café e criou um cantinho do café na sala de sua casa. Para ele, um café de qualidade é “aquele que, após passar por todos os cuidados da cadeia produtiva, te entrega uma xícara com doçura elevada e acidez prazerosa”.

A importância da chaleira no preparo do café
Tradicionalmente, preparamos café aquecendo a água em uma panela qualquer ou leiteira (sem bico). Esses utensílios dificultam muito a forma de despejar a água sobre o café, pois não foram planejados para isso.
Vez ou outra, uma parte do pó não é molhada de forma correta ou a água cai sobre o pó com muita força (peso), extraindo o café de maneira inadequada ou até espirrando o café fora do filtro, inclusive com risco de acidentes.
Controle é então a palavra-chave quando falamos da relação entre água e café no preparo da nossa xícara. É o que acredita Jessica Easto, autora de “Craft Coffee – A Manual – Brewing a Better Cup at Home” (ed. Agate Surrey Books, não lançado em português).
“Os métodos de café filtrado requerem um preparo controlado e lento. Por isso, surgiram as chaleiras desenhadas especialmente para isso, chamadas de chaleiras bico de ganso ou pescoço de ganso (‘gooseneck kettles’, em inglês)”, explica.
O controle do fluxo da água no momento de extração, para Maycon, é exatamente o que determina o resultado na xícara. “Um fluxo mais intenso, por exemplo, poderá trazer amargor e outros aspectos indesejados na bebida. Como o café especial é delicado, um fluxo bem controlado gera resultados melhores na extração”, explica.
Ele não gosta, por exemplo, de chaleiras muito pesadas, com cabos que não têm “pegada boa” [boa angulação, firmeza e ergonomia para as mãos] e que despejam um fluxo muito intenso. “Isso pode atrapalhar na hora de extrair vários cafés.”
Anderson segue a mesma ideia. “A chaleira pode facilitar ou dificultar o controle dos despejos. Uma boa chaleira proporciona mais autonomia na hora do preparo.”
“Existem inúmeras opções de marcas, modelos e tamanhos de chaleira. Para mim, uma chaleira precisa ter um cabo com uma pega confortável, não pode ser muito pesada e quanto mais fino o bico, melhor”, diz.

O que são as chaleiras bico de ganso?
Jessica Easto explica que as chaleiras bico (ou pescoço) de ganso possuem um bico longo, fino e curvado, lembrando um pescoço de ganso (daí o nome). Geralmente esse bico sai de um ponto bem próximo da base da chaleira.
“O bico de ganso permite um despejo lento, suave e contínuo. Isso faz com que você possa direcionar a água exatamente onde quer no pó de café”, explica.
Jornalista estadunidense especializada em café, Jessica acredita que os preparos filtrados são bastante desafiadores, quando se trata de controlar os resultados. Por isso recomenda fortemente que os apreciadores de métodos filtrados adquiram uma para seus cantinhos do café. “É difícil, senão impossível, conseguir um fluxo suave e lento com as chaleiras tradicionais. A água geralmente vem muito rápida e promove muita agitação ou vem lenta demais e escapa pela lateral da chaleira.”
Essa opinião é compartilhada por Maycon, quando perguntamos se é possível preparar um bom café com uma leiteira ou chaleira tradicional. “Sim, até dá pra ter um resultado satisfatório [com as tradicionais], porém com muito mais trabalho do que se teria com uma chaleira bico de ganso”, acredita.

Força e movimento no preparo do café
Quando falamos em solubilidade, ou seja, a capacidade de um ingrediente se dissolver em outro, um dos aspectos mais importantes são os pontos de contato de um ingrediente com o outro, além da forma como esse contato acontece.
Ou seja, faz diferença quando despejamos mais ou menos água no café no momento da extração. “Vai depender do tipo do café e da torra. Alguns perfis de café pedem extrações mais delicadas”, explica Maycon.
Anderson conta que geralmente tenta fugir das “verdades absolutas”, mas, para ele, algo é fato: “tudo o que acontece com o café interfere no resultado da bebida”.
“Um fluxo de água muito intenso, além de introduzir mais água naquele momento do preparo, também causa mais turbulência (agitação). Isso tem um impacto imediato no quanto e em como essa água está extraindo os atributos do café. Aí entra o conhecimento das variáveis da extração e como utilizá-las”, explica.

Maycon acredita que todos os detalhes importam. “Principalmente para o profissional que faz vários cafés ao dia.”
Não apenas o fluxo, mas também a angulação como a água é despejada no café faz diferença. “A angulação aplicada durante o despejo vai definir o fluxo e, consequentemente, o impacto (peso) que a água causará no café”, diz Anderson.
“Costumo dizer que, tendo um bom café, uma boa água e sabendo o que se pretende com aquele café, é possível, ainda que com uma estrutura limitada, extrair uma boa bebida. Porém, uma chaleira ‘pescoço de ganso’ proporcionará um maior controle de quantidade, direção e fluxo dos despejos. Logo, uma chaleira de bico fino facilitará consideravelmente o processo de extração da bebida.”

Outros diferenciais das chaleiras bico de ganso
Não dá para negar: as chaleiras com bico de ganso deixam o ritual de preparar café muito charmoso e cheio de elegância. Agora o utensílio aparece até em novelas e em comerciais de TV de marcas de café, chamando a atenção dos espectadores.
A Melitta conta com uma chaleira de bico de ganso em sua linha de acessórios para o preparo de café. A Chaleira Barista de Inox Melitta® possui bico fino, curvo e longo, como as outras chaleiras do tipo, mas conta com alguns diferenciais.
É fabricada na Alemanha e apresenta uma base resistente que contribui para uma excelente transferência de calor e cabo ergonômico.
Mas qual é a importância do cabo nessa história toda?
Maycon explica que uma “boa pegada” ajuda a fazer os movimentos necessários para agitar o café. “Fora o fato de se manusear um equipamento cheio de água quente, então precisa ter firmeza e confiança no cabo da chaleira”, alerta.
“Algumas chaleiras têm cabos pouco ergonômicos, às vezes muito finos ou largos demais. Outras vezes, o ângulo de inclinação do cabo em relação ao corpo da chaleira é aberto demais tornando a pegada desconfortável”, comenta Anderson.
Outro ponto que é preciso ser levado em consideração em uma chaleira bico de ganso é dosar de forma correta a quantidade de água. A chaleira da Melitta, por exemplo, vem com um marcador de volume máximo visível na parede externa para evitar o risco de acidentes.
As chaleiras bico de ganso têm ganhado adeptos em todo o Brasil, de baristas e instrutores a apreciadores e apreciadoras. Anderson é fã. “Eu gosto muito da versão da Melitta. É a que uso no meu dia a dia desde 2019. Para mim, ela tem o peso ideal, sua retenção de calor é excelente, a pegada do cabo é muito confortável, e o corte do bico tem uma angulação que proporciona um controle perfeito.”
Maycon conta que usa a sua há cerca de três anos. “Usava na cafeteria que tive e uso em casa. Gosto do fluxo e da angulação do bico, que me permite maior controle no momento da extração.”

Cuidados e limpeza das chaleiras bico de ganso
As chaleiras bico de ganso são equipamentos de custo diferente das tradicionais leiteiras antigamente utilizadas para ferver a água. Por isso, requerem um cuidado maior e atenção a alguns detalhes.
Por exemplo, as Chaleiras Barista da Melitta® podem ser levadas ao fogo para aquecer a água, diferentemente de outras marcas. Outras marcas não recomendam esse uso, podendo causar contaminação da água, prejuízos e até acidentes.
Maycon ressalta que o cabo dela é desenvolvido para essa situação. “A chaleira da Melitta pode ir direto ao fogo, inclusive seu cabo tem uma angulação que evita esquentar.”
Já Anderson prefere aquecer a água numa chaleira elétrica comum e transferir para a chaleira da Melitta. “Dessa maneira, os possíveis efeitos de oxidação acabam sendo evitados”, conta.
Para quem utiliza diretamente no fogão, eventualmente ele sugere que a chaleira seja lavada com uma esponja de aço. “As minhas, por exemplo, como não uso no fogão, só lavo quando vou tirar fotos, pois uso apenas para aquecer água.”
Outra sugestão de Anderson é não guardar com água quando não estiver em uso.
Maycon conta que tem a mesma chaleira da Melitta há três anos. “E ainda está perfeita.” O importante, segundo o especialista, é se atentar aos produtos de limpeza. “Evite produtos e buchas muito abrasivos”, recomenda.
Conheça algumas dicas de manutenção e limpeza da chaleira
- Utilize-a apenas com água. Outros produtos podem dificultar a limpeza
- A Chaleira da Melitta® pode ser levada ao fogo direto, mas, no caso de outras marcas, é preciso verificar a recomendação de cada fabricante
- A Chaleira da Melitta® pode ser utilizada no fogão de indução, mas, no caso de outras marcas, é preciso verificar a recomendação de cada fabricante
- Caso use a chaleira da Melitta no fogão, é recomendado lavar com esponja ao menos uma vez por semana
- Evite guardar com água ou úmida
- Evite utilizar produtos de limpeza e buchas muito abrasivos
- Pode ser lavada na lava-louças.

Nas linhas acima, conseguimos entender todos os motivos que fazem com que profissionais e apreciadores de café de todo o mundo venham se encantando cada vez mais pelas chaleiras bico de ganso para o preparo da bebida.
“A chaleira é uma ferramenta. O barista é o operador dessa ferramenta. Todo resultado depende da qualidade da ferramenta e do bom uso dela. Uma chaleira leve, com cabo ergonômico e de bico fino, auxilia muito no desempenho do barista. No controle do fluxo, turbulência e no local exato onde se deseja atingir o despejo”, conclui o especialista Anderson Meireles.
Desde o charme que confere ao ritual de preparo do café até questões técnicas, como controle e precisão do fluxo de água, além de conforto e segurança para quem está manuseando o utensílio, as chaleiras bico de ganso vieram para ficar.
Créditos: Divulgação Melitta; Acervo Maycon Alves; Acervo Anderson Meireles; Hans Vivek (xícara de café).
Observação: A Melitta é uma patrocinadora do PDG Brasil.
PDG Brasil
Quer ler mais artigos como este? Assine a nossa newsletter!