A importância dos concursos de qualidade para os cafés especiais no Brasil
Estão abertas as inscrições dos principais concursos de qualidade de cafés no Brasil. Os concursos tiveram e ainda têm um papel muito importante no desenvolvimento da qualidade dos cafés brasileiros. Geralmente acontecem quando chegamos no final do ciclo de colheita na maior parte do Brasil.
De maneira geral os concursos irão colocar à prova (literalmente em uma mesa de prova) os cafés produzidos por diferentes produtores de diferentes regiões do Brasil. Além das premiações, que é uma forma de recompensar financeiramente os produtores, os concursos trazem também o reconhecimento e a visibilidade para os cafés produzidos pelo produtor, pela produtora e sua região.
Neste artigo, o PDG Brasil irá apresentar os principais concursos de qualidade de cafés dentro do cenário nacional e falaremos do importante papel desses concursos no desenvolvimento da qualidade dos cafés brasileiros.
Conversamos com algumas das principais empresas organizadoras de concursos de qualidade: Dr. Aldir Teixeira, Diretor-Geral da Experimental Agrícola do Brasil e presidente da Comissão Julgadora do Prêmio Ernesto Illy, Vinícius Estrela, Diretor executivo da BSCA e Patrícia Carvalho, porta-voz e gestora dos Projetos Tribos e Florada, da 3Corações.
Você também pode gostar de ler Como preparar amostras de café para concursos de qualidade em 10 passos. E acompanhe o nosso boletim Notícias do Café, publicado quinzenalmente às sextas-feiras, onde reunimos as novidades do mercado de café do Brasil e do mundo e também os principais concursos de qualidade de todo o país.

Os concursos nacionais
Algumas empresas e associações são responsáveis por promover e organizar os concursos de qualidade em todo Brasil. Um exemplo é a empresa illycaffè. Para a empresa, o café brasileiro representa pelo menos 50% da demanda de café para os seus blends, e o desafio da empresa foi buscar estratégias para garantir o abastecimento regular de cafés de qualidade para a sua torrefação em Trieste na Itália.
Então, no início da década de 90, a empresa criou o prêmio Ernesto Illy e desenvolveu o mecanismo de compra direta de cafés dos produtores pagando um prêmio por preço.

Segundo o Dr. Aldir Teixeira, “o fato é que no final da década de 80, de cada 40 amostras que chegavam em Trieste (Itália) na illycaffè, apenas uma amostra era aprovada”. Ele ainda acrescenta: “Depois que começou o primeiro Prêmio, já em 1991, até hoje, nunca mais a illycaffè teve problemas em encontrar cafés de qualidade no Brasil.”
A empresa illycaffè já está no 32º concurso do “PRÊMIO ERNESTO ILLY DE QUALIDADE SUSTENTÁVEL DO CAFÉ PARA ‘ESPRESSO’ – BRASIL”. E a cada ano mais produtores enviam amostras para o Prêmio Ernesto Illy e optam pela venda direta dos seus cafés. Além dos requisitos relacionados à qualidade dos cafés recebidos, a empresa incorporou ao seu prêmio a chamada “Condutas da Política de Sustentabilidade da illycaffè”, que traz a atenção a práticas sustentáveis dentro da produção dos cafés brasileiros. Para saber o regulamento clique aqui.
Quando se trata de associações, a BSCA é uma das mais importantes organizações que apoiam e desenvolvem a cadeia de suprimento do café especial brasileiro. Uma de suas estratégias é a promoção e a organização de concursos de qualidade no Brasil. Segundo Vinícius Estrela, diretor executivo da instituição, “organizar os concursos de qualidade faz parte da identidade da BSCA”

A BSCA organiza e promove alguns dos principais concursos brasileiros. Como por exemplo o Cup of Excellence, que nasceu em 1999 por um grupo seleto de profissionais especializados e organizações ligadas ao café. O CoE, como é conhecido, é organizado pela BSCA e tem como foco principal o apoio aos produtores para uma remuneração justa e no desenvolvimento da qualidade dos cafés. Atualmente, pode ser considerado o principal concurso de qualidade do mundo, trazendo transparência e visibilidade para produtores e regiões cafeeiras do Brasil e de outros países. Para saber mais clique aqui.
Criado em 2018, o concurso da 3Corações “Florada Premiada” premia e valoriza os melhores lotes produzidos por produtoras de todo o Brasil. Patrícia Carvalho explica que para a 3Corações “o concurso de café significa muito mais do que uma competição nichada”. Ela acrescenta que a empresa tem como objetivo “oferecer uma plataforma inclusiva que promova valorização, reconhecimento e desenvolvimento sustentável da cadeia do café”.
Para o ano de 2022 o concurso terá a novidade de inscrições para produtoras de café arábica e canéfora, possibilitando a inclusão das produtoras de Canéfora no cenário de qualidade dos cafés brasileiro. Para saber o regulamento clique aqui.
Outro concurso que faz parte do cenário nacional é o Coffee of the Year – COY. Criado em 2012, faz parte da Semana Internacional do Café (SIC). O concurso tem como objetivo reunir os melhores cafés do Brasil e apresentar os destaques da safra. Está dividido em duas fases, a primeira consiste na análise das amostras por profissionais, em seguida as melhores amostras são apresentadas aos compradores na SIC em Belo Horizonte.
Os produtores podem concorrer nas categorias arábica, canéfora, fermentação induzida arábica e fermentação induzida canéfora. Interessante notar que o concurso cria essa interação e proximidade entre compradores/consumidor e os melhores cafés, tudo isso dentro do ambiente da feira internacional do café. Mais informações no site.
Importante não deixar de destacar o papel dos concursos regionais para o desenvolvimento da produção de qualidade dos produtores dentro de uma mesma região. Muitas vezes são organizados por suas cooperativas ou empresas.

Importância dos concursos
Para o produtor, que é a linha de frente na produção dos cafés de qualidade, a sua adesão nos concursos é fundamental para o desenvolvimento da qualidade dos cafés.
É o que explica o Dr. Aldir Teixeira, “O produtor entendeu a importância do Prêmio, primeiro porque ele é valorizado por produzir qualidade e também por ser recompensado monetariamente. Ele se sente orgulhoso de ser premiado pelo seu trabalho.”
O aumento da participação do produtor pode ser sentido ano após ano. Vinícius Estrela confirma essa tendência. “A BSCA vem recebendo mais amostras a cada ano, assim como temos organizado mais concursos também. Parte desse movimento é um reconhecimento do produtor ao consumidor.”
Na mesma linha, Patrícia Carvalho explica que as quatro primeiras edições do Concurso Florada Premiada, “somam mais de 3.200 inscrições e 230 toneladas de raros microlotes cultivados por mulheres cafeicultoras de todas as regiões produtoras de café arábica do Brasil.”

Preparação para os concursos
Os concursos também são uma forma de apresentar aos produtores os padrões de qualidade exigidos pelo mercado e acaba por ajudar a resolver alguns problemas de qualidade, levando a capacitação e educação para dentro da produção.
Patrícia Carvalho destaca que o Concurso Florada faz parte do Projeto Florada que vai além dos prêmios. Um dos pilares do projeto é “contribuir com a capacitação das produtoras Projeto Florada, …… e oferecer acesso às melhores práticas na produção de cafés especiais, por meio do programa de capacitação gratuito Florada Educa”.
Nesta mesma linha, a BSCA trabalha para oferecer mecanismos para capacitar os produtores, “O produtor pode conhecer mais sobre como se preparar se capacitando em um de nossos programas educacionais da BSCA School, de modo a realizar o manejo, os tratos culturais adequados, desde a lavoura até os processos de pós-colheita de suas amostras”, explica Vinícius Estrela.

Como isso impacta o consumidor?
Uma das consequências do desenvolvimento da qualidade por meio dos concursos pode ser sentida diretamente pelo consumidor, que no final acaba tendo oportunidade de beber mais cafés de qualidade e descobrir novos perfis de diferentes origens.
“Para o consumidor, é ter a segurança de que está bebendo um café sustentável, com atributos sensoriais únicos, que passaram por um longo processo de seleção realizado por provadores altamente qualificados. Para além de um café, uma experiência”, diz Vinícius.
Os concursos também possibilitam que os consumidores tenham consciência e reconheçam a diversidade das regiões produtoras de cafés de qualidade, possibilitando criar vínculos duradouros entre a produção e o consumo.
Patrícia Carvalho comenta que um outro pilar do Projeto Florada é “conectar quem produz com quem consome, uma vez que proporciona ao consumidor por meio da campanha ‘Junte-se a elas’ a oportunidade de fazer parte do projeto, já que ao adquirir um dos raros microlotes, 100% do lucro retorna para as cafeicultoras.”

Planejamento
Para o produtor que quer se preparar para o concursos de qualidade, o planejamento começa lá na colheita e na escolha dos melhores lotes, mas deixamos aqui alguns pontos importantes na hora de escolher o concurso:
- Ficar atento aos prazos de inscrição e regulamentos de cada concurso (sites, mídias sociais etc.);
- Definir qual a espécie e o processamento: por exemplo, arábicas ou canéforas, lavados, naturais ou fermentados;
- Atenção para a amostra a ser enviada, cada concurso pede uma quantidade específica e as amostras deverão ser fidedignas ao lote;
- Tamanho mínimo do lote inscrito: os concursos pedem uma garantia de quantidade mínima do lote inscrito, é muito importante que o produtor verifique se a quantidade produzida será suficiente.
- Tipo e classificação: exemplo, o tamanho de peneira, vazamento máximo, sem a presença de defeitos (grãos verdes, pretos, ardidos e pretos verdes, etc.), teor de umidade da amostra e etc.
Este artigo publicado recentemente no PDG Brasil também traz orientações interessantes sobre as amostras.

Por meio dos concursos os produtores e as produtoras são recompensados de forma justa e conquistam visibilidade. As competições também permitem incentivar os produtores a implementarem melhores técnicas de produção, além de possibilitar sua inclusão no cenário do café especial, melhorando as relações entre o consumidor e a produção.
Mais do que isso, os concursos de qualidade fazem parte do processo de desenvolvimento da qualidade dos cafés especiais no Brasil e no mundo. E o apoio das empresas, organizações e instituições que promovem e organizam os concursos é fundamental.
“Os concursos são uma oportunidade real para que todas as regiões produtoras no Brasil possam qualificar seus cafés para que sejam apresentados e divulgados no Brasil e no mundo”, conclui Vinícius.
Créditos: Acervo BSCA (mesa de cupping em feira internacional/destaque, equipe BSCA em feira), acervo Felipe Orioli (mesa de cupping COY), acervo illycaffè (Dr. Aldir Teixeira, premiação produtores em cerimônia prêmio Ernesto Illy), acervo 3Corações (foto produtos Florada Premiada), acervo SIC (premiação produtores na SIC, degustação em garrafas) e acervo CoE (produtor André Águila com prêmio/diploma).
PDG Brasil
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