O boom dos supercafés fitness no Brasil
A cafeína é muito associada a suplementos do segmento de academias e, nos últimos cinco anos, o mercado de café de varejo do Brasil conta com produtos designados como “supercafés”. Trata-se de compostos em pó à base de café para se consumir com água, sucos e leites em shakes formulados para otimizar a performance atlética e cognitiva.
Os produtos categorizados como “cafés funcionais” promovem vantagens nutricionais e metabólicas por meio da adição de vitaminas e substâncias diversas para serem consumidos como bebida. O café funcional é um sub-segmento da indústria de bebidas funcionais, cuja taxa de crescimento anual composta (CAGR) deve atingir 6% de 2022 a 2027.
O Brasil é o maior mercado sul-americano de bebidas funcionais de café e é o segundo país com maior potencial de crescimento de receita nesse segmento, sendo os Estados Unidos o primeiro, reporta a Euromonitor.
Neste artigo o PDG Brasil explora o panorama do segmento dos cafés funcionais no Brasil, especificamente o nicho dos cafés consumidos para ampliar o rendimento atlético, os ‘super coffees’ do mundo fitness. Esse tipo de produto, comercializado como bebidas prontas para o consumo (ready-to-drink, RTD) ou em pó solúvel, comumente combina cafeína com alimentos nootrópicos, adaptógenos, termogênicos e vitaminas na formulação.
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A cafeína
A cafeína por si só tem sido há muito tempo usada para auxiliar tanto a capacidade cognitiva – foco, alerta – como a performance atlética – energia, queima de gordura metabólica. Uma vez ingerida, a cafeína leva de 40 a 50 minutos para começar a afetar o corpo humano.
Algumas pessoas são mais sensíveis à cafeína do que outras, e outras podem sentir seu impacto imediatamente. Isso acontece por conta de um efeito psicológico que ocorre quando os receptores da língua enviam sinais ao cérebro.
A cafeína atinge seu pico metabólico no corpo cerca de duas a três horas após a ingestão e permanece no corpo por aproximadamente quatro horas após o consumo. Mas isso depende de diversos fatores, como a dose ingerida e características pessoais, como peso, idade e o quão sensível cada um é à cafeína. Alguns estudos indicam a permanência do composto no corpo por até 15 horas.

No mercado fitness do Brasil (e no mundo), a cafeína é um dos elementos protagonistas em suplementos: ingerida ou através de cápsulas ou em bebidas que têm café como ingrediente base.
Além de ser o segundo país com maior potencial de crescimento de receita no segmento do café funcional, logo atrás dos EUA os primeiros, como dissemos acima, o Brasil também fica atrás dos EUA em outros dois segmentos com números que refletem o posicionamento dos dois países quanto ao café funcional. Os estadunidenses e os brasileiros são os maiores consumidores de café do mundo, e os maiores frequentadores de academias do mundo. Café e fitness, portanto, são inseparáveis nesse panorama.
As grandes redes de café, tanto no segmento varejo, e-commerce quanto em cafeterias, investiram fortemente no potencial de bebidas, suplementos e cafés funcionais nos últimos anos. Nestlé e Starbucks são alguns exemplos de líderes no mercado de cafés funcionais. A 3 Corações, no Brasil, recentemente incluiu cafés funcionais no portfólio, com a sub-marca Ultracoffee, que une a fórmula de cappuccino, produto carro-chefe da empresa, a substâncias funcionais.

O café e a preocupação com a saúde
De acordo com informações do departamento de pesquisa e ciência da Kerry Alimentos, uma das líderes do segmento internacionalmente, os consumidores estão mais propensos a experimentar ofertas inovadoras em bebidas do que em comida, tornando a categoria de cafés funcionais um canal com alta oportunidade de crescimento. Outra pesquisa da Kerry, revelou que 65% dos consumidores de bebidas funcionais no mundo estão mais preocupados com a saúde do que antes da pandemia de Covid-19.
Entretanto, na última década, os consumidores de bebidas em geral têm investido mais em produtos que agregam fatores nutricionais e promovem bem-estar. ‘Energia’ e ‘alerta’ são as demandas de maior crescimento, respondendo por 37% da atividade de desenvolvimento de novos produtos (NPD) no mercado de bebidas funcionais, ainda segundo o estudo da Kerry.
“O café é o ingrediente principal da fórmula do nosso produto devido às suas capacidades ergogênicas (para melhorar o desempenho) e à sua capacidade de estimular o foco, a atenção e a concentração”, diz Murillo Allan, gerente de marketing da marca brasileira Caffeine Army, que fabrica o café fitness/supercafé SuperCoffee, líder do segmento no Brasil. Murilo diz que a demanda por produtos da Caffeine Army aumentou significativamente ao longo da pandemia.
A formulação do SuperCoffee mistura vários outros compostos com um café orgânico da região da Chapada da Diamantina, na Bahia. Segundo a descrição nutricional do produto, “o consumo pode aumentar a função metabólica em até 11%, além de melhorar a concentração e a perda de gordura”.

O panorama do mercado dos cafés funcionais no Brasil
O supercafé no mercado brasileiro é uma bebida diferente de outro café fitness que virou febre entre os frequentadores de academia, o Bulletproof Coffee, bebida que leva óleo de coco ou manteiga e café em pó. Segundo Murillo, a indústria nacional do café como um todo acolhe inovação e a inclusão de produtos cafeinados. “Mesmo que o consumidor ainda veja o cafezinho de forma tradicional, há a abertura para abraçar novidades.”
Dados do Google Trends, a ferramenta do Google que computa tendências de busca por tópicos, discriminando regiões, datas e índice de interesse, revelam que o Bulletproof teve seu pico de sucesso em 2018, quando também foi lançada a marca Caffeine Army, que 2020 obteve um aumento de mais de 1000% em vendas, com projeção de crescimento anual de vendas de 46% para 2022.
As informações do Google Trends ilustram a temporalidade do crescimento deste subsegmento. De 2018 a 2022, as buscas por “supercafé” e “supercoffee” atingiram seu pico em 2020, com buscas associadas ao termo “café funcional”, “pré treino” e também a produtos de marcas concorrentes.

Os aditivos do supercafé explicados
O sucesso dos produtos baseados na relação entre o café e o condicionamento físico, também catalisou a incorporação de substâncias nutricosméticas nas fórmulas dos supercafés funcionais, como o colágeno verisol e o ácido hialurônico.
Estes são os grupos de substâncias incorporadas aos supercafés:
Nootrópicos
Nootrópicos alimentares são substâncias neuro ativadoras, comercializados em uma ampla gama de suplementos e outras substâncias. Exemplos incluem Alpha-GPC, DMAE, taurina e L-teanina.
Adaptógenos
Adaptógenos são alimentos naturais como ginseng, açafrão, manjericão, maca, cúrcuma, matchá, que aumentam a resistência do organismo e contém propriedades antioxidantes, anti inflamatórias, anti stress e que também melhoram a capacidade cognitiva.
Termogênicos
Termogênicos são alimentos como gengibre, pimenta, óleo de coco, canela e cravo, que possuem a capacidade de acelerar o metabolismo e otimizar a digestão, por promoverem um aumento de 10 a 15% no gasto de energia.
Inúmeras vitaminas também são comumente adicionadas aos cafés fitness funcionais, como cromo, complexo B, e mais.
Os adeptos dos supercafés devem ter cuidado com a dose ingerida de cafeína durante o dia, para além do que consomem nos supercafés. Eneko Aranaz é boxeador, personal trainer e co-proprietário da San Jorge Coffee Roasters, em Zaragoza, Espanha. Ele trabalha com cafés especiais há seis anos, e usa o café como suplemento de pré-treino. Segundo Eneko, a quantidade de cafeína ingerida para melhorar o desempenho “depende da tolerância pessoal”, e que se deve planejar o consumo de café de acordo com a atividade física.
Eneko explica que a cafeína, quando ingerida, leva de 40 a 50 minutos para afetar o corpo humano. Algumas pessoas são mais sensíveis do que outras, que podem sentir o impacto imediatamente. Isso acontece por causa de um efeito psicológico que ocorre quando os receptores da língua enviam sinais ao cérebro.
De acordo com Eneko, a cafeína não faz efeito da mesma maneira de um dia para o outro, ressaltando que existem muitas variáveis diferentes que afetam como o corpo reage, como níveis de estresse, hidratação e consumo de alimentos.

Os desafios do mercado de cafés funcionais
Para Murilo, ainda há que se trabalhar muito no diálogo com o mercado das cafeterias brasileiras para que comecem a incluir os cafés fitness em seus cardápios.O mercado de distribuição das bebidas da Caffeine Army é majoritariamente o marketplace digital, seguido das lojas especializadas em fitness e em academias, que incluem a bebida no menu das cafeterias internas.
Segundo Murilo, desafios regulatórios para o SuperCoffee não existem de fato. No entanto, no que diz respeito a certos nootrópicos e ao CBD, uma adição aos cafés funcionais comum em outros países, há impedimentos por parte da ANVISA. A próxima fase do plano de negócios da marca é o processo de internacionalização dos produtos. Em 2022, a empresa firmou uma parceria global de distribuição com a Amazon, para os mercados dos Estados Unidos e União Europeia.

O mercado de cafés funcionais do Brasil está em expansão, e representa as preferências de estilo de vida dos brasileiros quanto ao amor pelo cafezinho e pela atividade física.
Casos de sucesso, como o da Caffeine Army, uma startup que investiu em uma tendência de consumo até então “alternativa”, e hoje lidera esse mercado, ou como o da 3 Corações que também está apostando nesse mercado, refletem o quanto é importante que a indústria de café se mantenha em diálogo aberto com o consumidor de forma inovadora e acolhedora. O mesmo serve para as cafeterias: se há demanda, e é café, por quê não acolher os desejos dos consumidores?
Créditos: Ben Moreland (xícara de café); Divulgação Caffeine Army, Divulgação San Jorge Coffee Roasters; Divulgação Ultracoffee; Kelly Sikkema (mulher colocando o supercafé no shaker).
PDG Brasil
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