Benefícios e desafios da energia solar na fazenda
Visando uma cafeicultura que seja sustentável no campo e economicamente falando, adotar o uso de energia fotovoltaica nas fazendas de café já é realidade para alguns produtores das principais áreas de café do Brasil.
O sistema que requer planejamento e investimento significativo, promete entregar bons resultados tanto para o financeiro do produtor, assim como atende uma agenda global que cada vez mais pede por práticas de desenvolvimento sustentável do setor produtivo.
Para saber mais sobre o tema, o PDG Brasil foi conversar com especialistas e com cafeicultores que já utilizam essa fonte alternativa e sustentável.
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O Brasil e a energia solar
De acordo com dados levantados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Brasil foi o 4º país que mais avançou em energia solar em 2021. A apuração teve como base os dados atualizados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e também a publicação mais atualizada da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA).
Os números comprovam na prática que investir no segmento tem sido uma boa opção diante do avanço do custo com a energia elétrica, além, é claro, de colaborar com as questões de sustentabilidade, com uma cafeicultura que cada vez mais pratica uma economia “mais verde”.
Para o campo, que sofreu nos últimos dois anos com os impasses climáticos, discutir as possibilidades com a energia solar é algo urgente. Nesse sentido, no mês de junho durante as comemorações em prol do Dia Nacional da Agricultura Irrigada, a Comissão Nacional de Irrigação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) debateu sobre a geração de energia para o agronegócio de forma geral.
Segundo números apresentados pela CNA, atualmente o Brasil tem 78,5 mil empreendimentos com micro e minigeração distribuída na área rural, deste montante, 99,6% trata-se de energia solar fotovoltaica.
Maciel Silva, coordenador de Produção Agrícola da CNA, destacou que o país conta hoje com uma lei (14.300/2022) onde estão estabelecidas todas as responsabilidades para garantir que a microgeração seja feita de forma segura e eficiente, além de destacar as medidas de segurança jurídica potencial de valoração dos benefícios da Geração Distribuída (GD) no cálculo de custos e cobranças tarifárias da energia.
Para o especialista, muitos são os benefícios da geração distribuída de energia solar. O material publicado pela CNA acrescentou que a GD traz ao setor produtivo autonomia e previsibilidade em relação às variações de preço/custo.
“Possibilidade de uso de resíduos e coprodutos da atividade principal, melhoria da qualidade da energia, ampliação do acesso à informação e inovação tecnológica e redução do custo de produção em relação ao preço dos alimentos”, afirma.

Brasil tem segunda conta de energia mais cara do mundo
Se além da sustentabilidade, reduzir os custos é uma das vantagens da energia solar, o produtor rural mais uma vez mostra estar indo na direção certa já que os dados da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres) mostrou que o país tem a segunda conta de luz mais cara do mundo. O levantamento foi publicado pela plataforma de descontos Cupom Válido.
De acordo com os dados da Abrace, nos últimos cinco anos a conta de luz avançou 47% no Brasil. Com o salto no ranking, o país agora fica atrás apenas da Colômbia, coincidência ou não, justamente o segundo maior produtor de café do mundo. Logo atrás do Brasil, aparecem Turquia, Chile e Portugal.
O estudo levantou ainda que do total do custo pago pelos consumidores, apenas 53,5% são utilizados para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. “Os vilões estão nos outros 46,5% restantes, que são compostos por taxas, furtos, impostos e ineficiências. Somente referente ao furto de energia, estima-se que em 2022 as perdas somam mais de R$ 5,4 bilhões”, afirma.
A pesquisa levou em consideração custo de 200 kWl e a renda per capita de cada um dos países. Dessa maneira, o brasileiro gasta, em média, 25% do seu orçamento apenas para a energia. Já, quando se fala em países com “energia mais barata”, aparecem Noruega, Luxemburgo, Estados Unidos, Canadá e Suíça.

Energia de fontes renováveis é uma boa saída
Com a finalidade de reduzir os custos, desde o ano de 2012 qualquer pessoa no país pode optar por gerar a própria eletricidade a partir de fontes renováveis. A opção chegou há alguns anos também para o produtor rural.
O uso da energia solar tem ganhado destaque no agronegócio brasileiro. Cada vez mais os produtores vêm buscando formas de driblar o alto custo de produção, principalmente após os dois últimos anos, quando o setor agrícola viu uma verdadeira explosão nos preços.
De acordo com informações da Coopervitae (Cooperativa Agropecuária dos Produtores Orgânicos de Nova Resende e Região), cooperativa atuante no sul de Minas Gerais, planejamento é a palavra chave para conseguir a implementação do negócio.
De acordo com Fernando Oliveira Madeira, tesoureiro da cooperativa, o primeiro passo é o produtor procurar por uma revenda de confiança para que esse serviço especializado o ajude a encontrar o melhor sistema para a sua propriedade. “Depois de ver o dimensionamento que precisa, o volume de geração de energia que vai precisar e finalizada a questão de preço e orçamentária, o produtor vai solicitar acesso junto a concessionária e fazer o pedido de acesso”, explica.
O acesso significa que será feita a troca do relógio, por que esse equipamento faz a medição da geração de energia e também mede o consumo de energia. Enquanto a troca desse relógio acontece, as instalações dos painéis já começam a ser feitas na fazenda.
“Depois do sistema montado e homologado junto à concessionária, o produtor vai ter em toda conta do mês um resumo do que gastou, o que gerou e o que sobrou de saldo. Ele também pode monitorar via aplicativo remoto pelo celular”, explica.
Para Rafael Henrique Ribeiro, especialista em gestão ambiental da Coopfam (Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região), o grande desafio para o produtor ainda é em relação ao investimento que precisa ser feito.
“Os benefícios são inúmeros por se tratar de uma energia renovável que não gera impactos para com o meio ambiente, além de pagar o investimento mesmo que a longo prazo”, afirma.
“Pagamento a longo prazo”, o termo também é destaque para o produtor Marcelo Urtado, da Fazenda Três Meninas, localizada no Cerrado Mineiro. Ele reconhece que o investimento é alto, no caso dele, em torno de R$ 265 mil reais, o equivalente a 140 placas. Mas o pagamento foi realizado em cinco anos de parcelas fixas, que, de acordo com ele, ficavam no mesmo valor que era pago na conta de luz mensalmente. O processo de planejamento até a instalação das placas durou aproximadamente 4 meses na fazenda.
Vivendo a experiência na prática, Marcelo afirma que é de suma importância que o produtor encontre uma empresa confiável para fazer a instalação. Por se tratar de uma tecnologia que está em constante inovação, é importante encontrar profissionais que acompanhem a velocidade do mercado.
“Toda hora muda, e então é difícil até para o produtor entender tudo isso e até para comparar. Existem diversos tipos de equipamento de energia solar, vários tipos de placas, vários tipos. Quase tem que fazer um curso se quiser comparar muito bem uma proposta com a outra”, relembra.
Escolher o local também foi outro ponto importante para o produtor. “É preciso estudar bem isso, vai colocar no barracão? Em cima do telhado? Para quem tem área sobrando é uma coisa simples, mas na minha fazenda, como é bem enxuta, tinha pouco espaço, então quebramos a cabeça para encontrar a solução”, afirma.

Sistema Senar apoia a energia solar na fazenda
Como o custo é elevado, linhas de crédito passaram a ser criadas para dar suporte ao produtor que deseja fazer a mudança na propriedade. Marcelo citou uma média de custo, mas vale lembrar que o valor depende da dimensão e necessidade de cada fazenda.
“Há alternativas para mitigar os gastos. Um deles é o financiamento tradicional, o outro é o cooperativismo, por meio do qual diversos produtores da mesma localidade podem comprar painéis em conjunto e com isso obter desconto do fornecedor. Uma vez que o sistema esteja pago, a fonte de energia é gratuita”, explica uma publicação do Sistema Senar.
O Senar acrescenta ainda que a autonomia na geração de eletricidade permite que o produtor rural e seu maquinário estejam protegidos contra quedas e oscilações de energia. Por isso, o sistema é especialmente interessante para propriedades localizadas em áreas de altos índices de insolação.
Ainda falando sobre os custos de instalação, uma das alternativas que vêm ganhando destaque no meio rural é a inserção da energia solar por meio das cooperativas.

Apesar do custo elevado, implementar a energia solar em propriedades rurais apresenta vários benefícios, segundo nossos entrevistados. A sustentabilidade, a economia e a estabilidade de fornecimento são alguns deles.
Vale buscar apoio em grupos de produtores, associações e cooperativas e tentar encontrar formatos de viabilizar o uso dessa fonte de energia alternativa.
Créditos: Acervo CNA (painéis de energia solar/destaque e torres de transmissão de energia); Marcelo Urtado (painéis de energia solar na fazenda).
PDG Brasil
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