10 de agosto de 2022

Fertilizantes: como garantir a nutrição da lavoura de café?

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A colheita da safra 2022/2023 de café avança em todas as regiões produtoras do Brasil, serão cerca de 53 milhões de sacas, segundo a Conab, comprovando a redução da quantidade colhida devido aos fenômenos climáticos que ocorreram em 2021 (geada, estiagem prolongada, temperaturas elevadas) que contribuíram para a baixa frutificação das plantas. Além desse fato, o cafeicultor enfrentou a elevação do preço dos principais insumos utilizados no manejo da cultura, decorrente de fatores econômicos (inflação elevada, redução do crédito rural etc.), da pandemia da COVID-19 que ainda afligem nosso mundo até os dias de hoje; e, mais recentemente o conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia.

Mas um insumo em particular tem uma importância fundamental na atual cafeicultura brasileira: fertilizantes químicos. A cafeicultura nacional, ao longo dos séculos, migrou de áreas com fertilidade natural para regiões onde é necessária a adição de nutrientes por intermédio de fertilizantes, químicos ou orgânicos. 

Continue lendo para entender a importância da fertilização dos solos dos cafezais nesta coluna escrita por Willem Araújo para o PDG Brasil

Você também pode gostar de ler o outro texto deste colunista: A xícara está meio cheia. O que devemos esperar da safra 22/23? 

nutrição do café

O solo brasileiro e os minerais

O Brasil possui solos com excelente estrutura física para o cultivo do café, porém poucos apresentam capacidade de suprir todos os nutrientes exigidos pela cultura, em especial Nitrogênio(N), Fósforo (P), potássio (K), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg). 

Essa complementação é feita por meio de corretivos de solos, como o calcário, que aumenta o pH (medida da acidez do solo), neutraliza o alumínio tóxico (Al³+) e fornece Ca e Mg, importantes para o desenvolvimento das raízes, formação da parede celular e do processo da fotossíntese. 

Porém, para N, P e o K, são utilizados preferencialmente fertilizantes obtidos da reação química de rochas ricas nesses nutrientes e produtos químicos, que formam os fertilizantes mais comumente utilizados na cafeicultura brasileira, por exemplo, o Superfosfato Simples, Fosfato Monoamônico (MAP) e o Cloreto de Potássio (KCl). 

E, no caso dos nitrogenados, as fontes são a uréia e fontes amoniacais, como o Sulfato de Amônio e o Nitrato de Amônio. 

fertilizantes e produtividade

A oferta de fertilizantes 

Dados da ANDA (Associação Nacional para a Difusão do Adubo), que congrega as principais empresas produtoras de fertilizantes no país, informam que em 2021 foram entregues ao mercado brasileiro mais de 45,855 milhões de toneladas de fertilizantes, sendo que cerca de 85 % deste valor (aproximadamente 39,2 milhões de toneladas) foram importados. 

Segundo a CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil), no início de 2022, o valor pago pelo produto importado superou os inacreditáveis 178%. O motivo: a invasão injustificada da Ucrânia pela Rússia, que ocasionou a adoção de sanções econômicas pelos EUA e UE contra os russos, afetando o comércio mundial de commodities. Os países envolvidos no conflito (Belarus, Ucrânia e Rússia) são grandes produtores de grãos e, principalmente, fornecedores de fertilizantes químicos para o mundo, em especial ao Brasil. 

O resultado desse conflito e da dependência brasileira à importação do produto acarretaram o aumento vertiginoso dos preços internos dos fertilizantes, assustando os cafeicultores que já encontravam dificuldades no final de 2021 para adquirir o insumo, por problemas logísticos.

lavoura de café

O conflito e a cafeicultura brasileira

Mas como essa situação pode afetar a nossa cafeicultura? Como já dito, para produzir grãos de café com qualidade, a planta precisa de condições climáticas adequadas, água e nutrientes suficientes, e caso haja a falta de um destes fatores, há a redução na produção e perda na qualidade dos frutos colhidos. 

Em 2021, o clima prejudicou a nossa produção, reduzindo em até 20% a produção inicialmente prevista para este ano safra. Porém, para o próximo ano, o grande problema deverá ser a aquisição de fertilizantes pelos cafeicultores, em especial os pequenos cafeicultores. 

As grandes propriedades, apesar de sofrerem os mesmos efeitos, devido à escala da produção podem obter condições mais vantajosas na aquisição dos insumos, bem como realizar suas compras com mais antecedência. 

Porém, os médios e pequenos, somente após a colheita e comercialização do café colhido, adquirem os insumos necessários para a produção, em uma época de maior demanda e escassez do produto. Com isso, têm um menor poder de negociação. 

Nesse cenário, há o temor de menor utilização de NPK e por conseguinte a redução da produtividade das lavouras e menor produção (Foto 5). Finalmente, após 2 anos de safra de produções menores que a demanda do mercado, podemos ter um terceiro período de baixa produção, ampliando o déficit do setor.

café especial

Como reduzir os impactos e garantir a nutrição da lavoura?

Mas como o cafeicultor pode reduzir os impactos desta alta dos preços dos insumos sem reduzir a aplicação de nutrientes? A primeira opção é a realização de uma amostragem de solo bem feita, seguida por uma interpretação correta da análise de solo obtida. Depois, corrigindo a acidez do solo, se necessário, e aplicando a quantidade adequada de fertilizantes, em doses suficientes para suprir as necessidades do solo. 

Outro ponto, é a utilização de resíduos orgânicos (palha de café, cama de aves ou esterco bovino), quando disponíveis, para melhorar a estrutura física do solo e fornecer pequenas quantidades de nutrientes. 

Os organominerais são uma opção válida, desde que sejam produtos de boa qualidade e aplicados em quantidades que supram as necessidades das plantas. Quanto aos aspectos econômicos, o momento é de planejar a compra dos fertilizantes necessários, utilizando estratégias que possam minimizar os impactos financeiros na atividade, sem prejuízos aos aspectos produtivos. 

nutrição da lavoura

As revendas e cooperativas possuem planos de troca de fertilizantes por grãos de café, sendo uma alternativa viável, uma vez que a valorização atual do produto, permite uma melhor relação de troca. O crédito rural é a alternativa mais comum para o custeio dos insumos, em especial os fertilizantes. 

O recém lançado Plano de Safra 2022/2023, trouxe um aumento nas taxas de juros, com valores de 6% para o Programa de Apoio a Agricultura Familiar – PRONAF; 8% para o Programa de Apoio ao Médio Produtor – PRONAMP; e taxa de 12 % para os demais produtores, que podem pagar à vista a compra do fertilizante, com um prazo de 12 meses para quitar o crédito obtido perante os agentes financeiros.

fertilização do cafezal

Portanto, o cafeicultor brasileiro, que está colhendo nesta safra um volume abaixo do esperado para um ano de bienalidade positiva, enfrentará mais um grande desafio em 2023: garantir o potencial produtivo das plantas, com a escassez e preços elevados dos fertilizantes. 

Mais do que nunca, uma gestão mais eficiente desse cafeicultor e dessa cafeicultora e uma percepção de que este é o momento da cafeicultura brasileira se consolidar como produtor de cafés de qualidade, faz-se necessário para que possamos passar por este momento difícil da nossa economia e garantir renda e prosperidade aos nossos cafeicultores.

Créditos: Luiza Macedo/Conhecimento Agro (florada/destaque); Acervo Willem Araújo (frutos verdes no galho; lavoura acometida pela geada; frutos maduros no cesto e cafeicultora com agrônomo); Rodrigo Flores (frutos no galho com diferentes maturações); Nick Harsell (grãos torrados).

PDG Brasil

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