Como cuidar da lavoura após a colheita de café
A colheita do café é um processo que, mesmo sendo realizado com o máximo de cuidado manual ou mecanicamente, acaba por danificar e trazer danos à estrutura do cafeeiro. Desfolha, quebra de galhos e de ramos produtivos, além do descascamento do tronco que estimula a emissão de brotos indesejados são algumas das consequências prejudiciais da colheita.
Para cuidar da lavoura de café após a colheita e garantir o máximo de vigor e a produtividade para a próxima safra, considerando que o cafeeiro é um arbusto de cultivo perene, é necessário que o produtor realize alguns procedimentos e tenha cuidado redobrado no período imediatamente posterior à colheita.
Para entender mais detalhadamente quais as melhores práticas envolvendo a recuperação da lavoura no pós-colheita, o PDG Brasil conversou com o engenheiro agrônomo Vinícius Teixeira Lemos. Vinícius atua como consultor técnico no SENAR-MG e na empresa própria Lemos Consultoria Agrícola, além de ser professor titular do curso de agronomia na universidade Una Bom Despacho e cafeicultor na cidade de Campos Altos (MG).

Colher na hora certa é importante
Segundo o agrônomo, uma das maneiras mais eficientes de se garantir um cafeeiro vigoroso e reduzir os danos é não postergar demais a colheita. “Liberar a planta mais cedo é dar tempo para ela se recuperar. Tem gente que deixa para colher a lavoura em setembro, aí com a colheita a planta sofre um estresse. Até ela se recuperar, leva um tempo e isso acaba por prejudicar o desempenho dela na próxima safra, porque vai juntar esse período de recuperação com o início da próxima florada”, explica.
Se o produtor conseguir colher a produção mais cedo, é mais interessante. O agrônomo sugere que “o ideal é só esperar a maturação fisiológica da planta e a redução na força para o desprendimento do fruto, senão acaba até reduzindo a eficiência de derriça, seja com colhedora, seja na colheita manual”.
Ainda nesse tema, Vinícius acrescenta que o cuidado com o momento da colheita precisa fazer parte do planejamento do produtor. “Se você planeja mal a colheita, deixando para muito tarde, pode ser que já tenha algumas gemas floríferas do que seria a nova safra no ramo que ainda não foi colhido e elas podem ser danificadas no processo de colheita, prejudicando a produtividade da planta para a safra seguinte.”
Então a gente tem que pensar em proteger essas gemas floríferas, deixar a planta livre colhendo na hora certa e cuidando delas no momento propício, segundo ele.

Não deixar que tenha muita quantidade de frutos passa e evitar que os frutos caiam espontaneamente no chão também é recomendável, de acordo com o agrônomo. Segundo ele, isso traz um maior vigor para a planta, devido à síntese do etileno, que é o hormônio que atua no amadurecimento dos frutos.
“Quando o café fica na planta por mais tempo, ele continua amadurecendo por conta da presença do etileno circulando na planta. Esse processo causa também a queda de folhas no ramo produtivo. Se você libera essa planta mais cedo, retirando essa carga desses frutos já maduros fisiologicamente, você interrompe a sintetização desse hormônio, evitando que muitas folhas caiam e acaba promovendo uma recuperação pós-safra melhor e mais ágil.”
Ele ressalta ainda que fazer o acompanhamento dos estágios de maturação é algo fundamental no dia a dia durante a época da colheita. Muitos produtores gostam de plantar cultivares diferentes nos talhões das propriedades, devido ao fato de que cada variedade tem um ponto de maturação próprio, fazendo com que se tenha sempre frutos no ápice de maturação ao longo de todo o período, garantindo a melhor gestão do pós-colheita.
Tendo esse acompanhamento realizado de forma ativa garante-se a possibilidade de colher os frutos também com maior eficiência e sem deixá-los tempo demais no cafeeiro, interrompendo a síntese do etileno.

Mecanização pode ser uma boa saída
Vinícius diz que costuma recomendar a mecanização da colheita de café sempre que possível, inclusive no caso de plantações em regiões montanhosas. Existem formas de adaptar o maquinário a diversas topografias de terrenos, trazendo a possibilidade de usar as colheitadeiras em regiões onde antes se julgava ser impossível a utilização do maquinário e isso traz diversas vantagens.
“Há trabalhos científicos que demonstram que a colheita mecanizada estraga muito menos que a manual, seja em lavoura nova com três anos e meio, seja em lavouras adultas. Hoje em dia tem muitas colhedoras no mercado, e quando bem reguladas e usadas no ponto de maturação adequado colhe tranquilamente sem estragar nada.”
Isso acontece, segundo ele, por conta do aprimoramento constante realizado pelos fabricantes desses equipamentos, mas também por limitações inerentes à colheita manual ou à imprudência de alguns trabalhadores.
“Na colheita de café manual, se o cafeeiro já estiver muito alto, você tem que colocar a escada para poder subir até o topo e colher. Essa escada quebra os ramos produtivos, porque é onde vai estar apoiada. Então, nesse sentido, a máquina colhe sem quebrar ramo nenhum”, explica.
No caso de lavoura nova, às vezes o apanhador puxa o ramo que está do outro lado da planta. Ele torce o ramo para o lado que ele está. Por exemplo, ele está colhendo de um lado e tem um ramo carregado de café do outro lado. “Então ele vem e torce aquele ali, fazendo como se eu fosse uma letra C com o ramo, e isso meio que quebra a vara de café.”
Quanto ao uso do maquinário em áreas de montanha, Vinícius diz que é recomendável seu uso em locais com até 40% de aclividade. “Para mecanizar, é fundamental o estudo da topografia, considerar com o fabricante do maquinário a possibilidade de um levante hidráulico maior, escolher uma máquina mais estreita e com bica fixa, além de realizar a regulagem adequada da máquina e mapear a área de colheita”, aconselha.

Atenção às pulverizações e podas após a colheita
Vinícius recomenda uma atenção bastante criteriosa à suplementação nutricional por meio das pulverizações como medida para revigorar as plantas e garantir a produtividade.
“Suplementar a lavoura é importante por estimular a cicatrização dos micro ferimentos que ocorrem e também nutrir a planta para que ela possa se recuperar de todo o estresse sofrido durante a colheita.”
Segundo o especialista, a pulverização com alguma fonte nitrogenada e à base de fósforo, além do cúprico, para prevenir fungos, é bem interessante. “Se a lavoura de café tiver também problema de ácaro, é preciso entrar com acaricida nessa pulverização.”
Ele ressalta que é preciso um olhar muito atento porque, dependendo da região onde o cafezal está, algumas medidas adicionais precisam ser adotadas. “O produtor precisa se atentar sobre qual o problema fitossanitário que mais afeta sua região para pensar nos cuidados necessários no pós-colheita, principalmente em se tratando de pulverização, para poder proteger bem as gemas floríferas que estão se formando para evitar que elas se percam e, com isso, caia a produtividade.”
Se for uma região muito úmida e fria, por exemplo, tem que observar se está tendo incidência de phoma e aí nesse caso entrar com um fungicida ou outras medidas específicas também.
O agrônomo acrescenta também a poda como uma prática interessante para garantir um bom revigoramento. “A poda do cafeeiro é importante para renovar a lavoura e corrigir problemas que a planta possa vir a apresentar, como baixa produtividade após uma forte geada ou granizo.
Ou mesmo quando se deseja escalonar e controlar a produção por meio de métodos como o safra-zero. E realizar a poda logo após a colheita é importante. “Isso dá tempo para a planta se recuperar e aumentar seu ritmo de crescimento.”

Com um bom planejamento, é possível aplicar todas as medidas sugeridas, recuperar a lavoura de café após a colheita e garantir uma plantação vigorosa após a colheita e aproveitar o máximo de produtividade possível para a safra seguinte, além de fazer com que o cafezal seja sustentável do ponto de vista econômico para o produtor.
Créditos: Projeto Café Gato Mourisco (cafeeiro frutos/destaque; café no pé maturações diversas; cafeeiro frutos amarelos); Gerson Cifuentes (trabalhador colhendo café); Divulgação Palinialves (colheitadeira no cafezal); Delightin Dee (close nos frutos).
PDG Brasil
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