19 de julho de 2022

Uma tendência sensorial cheia de charme chamada cerâmica

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Você já reparou nas louças utilizadas nas cafeterias? Tem percebido que muitas delas vêm adotando peças únicas, de formas e cores diferentes, quase nunca vistas antes? Um tanto de busca por identidade, um tanto de influência sensorial, não dá para não notar a crescente presença das cerâmicas artesanais dentro das cafeterias e principalmente para a oferta da experiência com o café.

Chamamos de cerâmicas artesanais as feitas manualmente, em pequena escala, em geral confeccionadas por uma única ceramista e pensadas como peças únicas, em que essas artistas da terra criam um único ou poucos modelos. São peças com mais identidade e exclusividade, verdadeiras obras de arte. 

O mercado de cafeterias têm se interessado cada vez mais por esse material. Para descobrir mais sobre o tema, o PDG Brasil foi falar com especialistas no assunto. 

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cerâmica e café

Breve história da cerâmica 

A cerâmica é o material mais antigo produzido pelo homem, sendo a mais antiga das indústrias. A origem exata ainda é obscura, mas estudos arqueológicos apontam sua existência entre oito e nove mil anos antes de Cristo. 

O nascimento da cerâmica está interligado aos indígenas, chineses, egípcios, japoneses, gregos, neolíticos e outras civilizações e culturas que antecederam a era cristã. Hoje é produzida em todo o mundo, pela grande indústria e por pequenos artesãos. Para fins estéticos, para a construção com tijolos e telhas, e agora como uma nova percepção sensorial para o café.

análise sensorial do café e cerâmica

A cerâmica e o sensorial do café

Para entender mais da relação sensorial entre louças e café, o PDG Brasil conversou com a neurocientista e especialista em processos de percepção e fatores externos ao café, Fabiana Carvalho, que coordena também pesquisas no The Coffee Sensorium. Ela fez uma comparação funcional entre materiais utilizados para servir a bebida e como isso afeta os sentidos. 

“Com relação à conservação de calor, a porcelana e o vidro pirex conservam calor por mais tempo. Depois vem a cerâmica. Conservar calor por mais tempo nem sempre é uma coisa boa”, diz ela em relação à clareza sensorial que o café especial apresenta, assim que perde um pouco da temperatura. 

Em relação à transferência de sabor, Fabiana fala do metal, que além de esfriar rápido transfere sabor para a bebida, assim como o papel, desses copos to go, que pode não ser interessante para o apreço do café especial, pois a tampa de plástico inibe a percepção aromática. Já a porcelana, o vidro e a cerâmica (desde que não seja nova e já tenha sido utilizada), não transferem sabor. 

tendência das cerâmicas

Sobre as cerâmicas artesanais, Fabiana correlaciona essas peças ao próprio processo do café especial em dois fatores, estético e sensorial. “O consumidor percebe a cerâmica artesanal como única, feita à mão, uma a uma, e isso agrega valor ao café, que também é único. É legal quando a gente fala quem é a ceramista, quem fez, isso dá mais ideia de autenticidade e de origem, assim como o café.” 

As cores e formas únicas também geram transposição de sensação. A cor rosa pode levar a uma percepção doce, como a amarela a uma sensação cítrica. As texturas também têm poder de influência, como comprovam os testes realizados pela neurocientista. 

“Todo café tem um atributo de aspereza, adstringente. Quando a gente serve café numa xícara áspera, por exemplo, a gente transfere mais aspereza ao café, porque a pessoa toca a xícara, então a gente causa uma antecipação de aspereza. Isso é testado. Como os ceramistas querem passar uma estética rústica, é importante que essa aspereza esteja na parte de baixo da xícara, e nunca na borda, onde se coloca o lábio.”

cerâmica como tendência sensorial na cafeteria

Uma tendência nas cafeterias

Fica mais claro compreender o crescente uso dessas louças nas cafeterias, ao percebermos a importância e a presença histórica das cerâmicas, junto à ampliação sensorial que trazem, principalmente as artesanais. 

É como um complemento que enriquece a experiência como o café. É no que acredita a empreendedora Elisa Saldanha, à frente do Elisa Café, em Belo Horizonte, que utiliza cerâmicas artesanais. 

“A escolha desse material está ligada à relação mais íntima com a produtora local de cerâmica, além das diferenças sensoriais que já se iniciam na estética. O toque acetinado que exclui sensação de aspereza, as cores que influenciam no aroma e como isso chega ao olfato, e também no realce de acidez e doçura.” 

Para Manuela Albuquerque, sócia do Botanikafé, rede de cafeterias em São Paulo, as cerâmicas artesanais têm o papel fundamental de compor e enaltecer a experiência na cafeteria. “Uma vez que, além de contribuírem na questão estética – marca registrada das nossas mesas – também trazem um ar mais intimista. Priorizamos os pigmentos com base naturais, porque combinam com a nossa identidade”, conta. O Botanikafé conta hoje com dois ceramistas que abastecem a casa, Carol Lamaita e Toke.

Mas a escolha das cerâmicas pode ser ainda mais positiva e proveitosa. Para a ceramista Ana Pangoni, além do fator estético e sensorial, existem outras vantagens que podem ser determinantes na hora da proprietária ou do proprietário da cafeteria optarem pelas xícaras de cerâmica.  

“É um material de alta durabilidade, ideal para temperaturas muito frias e também muito quentes, pois vai do congelador ao forno sem comprometer estruturas. Quando queimadas na temperatura correta, acumulam menos resíduos e são mais fáceis de lavar, demandando menor reposição, o que representa economia para as cafeterias.” 

cerâmica com café

Obviamente as cerâmicas não estão presentes apenas nas cafeterias. Estão presentes na história, no dia a dia de nossas vidas em todas as formas, principalmente as industriais. Mas são as cerâmicas artesanais, de peças únicas, que firmam uma tendência e enriquecem a experiência e a análise sensorial, principalmente em dois dos sentidos pouco explorados ao redor do café, o tato e o visual.

Agora só nos resta, como apreciadores da arte da cerâmica e do café, aproveitarmos essa tendência que vem cheia de sentidos, de beleza e de prazer.  

Créditos: Bruno Geraldi/Botanikafé (xícara/destaque; bowls e xícaras assinadas pela Toke); Divulgação Ana Pangoni (a ceramista com algumas de suas peças; e xícara com pires preto); Divulgação The Coffee Sensorium (a cientista Fabiana Carvalho); Divulgação Elisa Café (montagem com xícaras da cafeteria).

PDG Brasil

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