30 de junho de 2022

Brasil precisa de mais conectividade na cafeicultura para avançar  

Compartilhar:

Muito se tem falado nas tecnologias eficientes para facilitar a vida de quem está no campo. No caso do café, no entanto, ainda existe uma lacuna no mercado quando se compara com outras culturas altamente produzidas no Brasil. Por outro lado, quando se fala em variedades e pesquisa, o país que é o maior produtor e exportador de café do mundo é também líder absoluto nesses aspectos. 

Mas, diante de cenários tão distintos e que consequentemente se entrelaçam no dia a dia do produtor, como entender qual o atual nível tecnológico da cafeicultura brasileira? Luis Henrique Albinati, diretor de novos negócios da Minasul, reforça que para entender esse cenário é preciso dividir a tecnologia em duas pontas. 

Você também pode gostar de ler Oportunidades e desafios do uso da tecnologia na produção do café.

evolução na produção de café

Pesquisas e variedades

No caso das pesquisas e variedades, o Brasil é líder com trabalhos que ajudaram a despontar a cafeicultura brasileira. Um exemplo são as cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que teve seu pontapé inicial com o café e até hoje ajuda nesta evolução. Além do IAC, se destacam no setor os trabalhos e acompanhamento realizados pela Fundação Procafé e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

“O segmento de café é o mais voltado para áreas de desenvolvimento de cultivares, econômicas, desenvolvimento de novas moléculas entre outros. Vejo isso como um trabalho bem amadurecido quando nós falamos em termos de Brasil. Porém, quando falamos de tecnologia digital, inovação, novas técnicas, inteligência artificial, quando falamos em novas técnicas de gestão, monitoramento que vão contribuir para a tomada de decisões, sinto que ainda está muito longe do que necessitamos”, afirma. 

Investimento em tecnologia digital e principalmente o acesso à internet no campo estão entre os principais desafios da cafeicultura. O mercado conta atualmente com uma série de dispositivos inteligentes, de inteligência artificial e até monitoramento climático que já poderiam estar sendo utilizados na cafeicultura de forma intensiva, porém a falta de conectividade com uma internet confiável e de velocidade eficiente, impedem que o setor produtivo tenha essas facilidades em mãos. 

tecnologia no café

A conectividade na cafeicultura

Depois de dois anos de clima irregular na principal área de produção de arábica do Brasil, Sul de Minas Gerais e também região de atuação da cooperativa, o cafeicultor brasileiro busca e utiliza as tecnologias focadas principalmente em trazer informações climáticas. A tecnologia é essencial também para o acompanhamento de mercado em tempo real e até mesmo para avaliar custo de preços de insumos, por exemplo. 

Apesar de já estar disponível ao mercado, porém, mais uma vez, a falta de conectividade é a vilã. Além de muitas vezes as opções disponíveis não atenderem a necessidade de produção, o custo para se ter a conectividade no campo ainda é muito elevado, sem ser acessível para grande parte dos produtores. Vale lembrar que a produção de café no Brasil é composta por uma esmagadora maioria de pequenos produtores nas principais áreas de cultivo. 

“A conectividade é a maior limitante por dois motivos. Primeiro porque está cara a tecnologia de conectividade via satélite, ainda está inviável para muitos cafeicultores. E segundo é que, pela topografia, pela situação geográfica, muitas vezes a cobertura não atinge essas áreas ou não atinge os pontos principais onde são necessários. Com isso, você coleta dados, mas não consegue trabalhá-los em tempo real”, afirma. Todo esse cenário acaba dificultando a tomada de decisão, já que o produtor pode receber a informação fora do tempo ideal, ficando refém da rede de internet que se tem disponível. 

O especialista acredita que, no caso da área rural, é fundamental que essa conectividade chegue tão logo para o produtor. “Ela é importante para que o produtor possa fazer o controle de máquinas, rastreabilidade do produto, sistema de inteligência artificial para controle da umidade do solo e uma série de outras medições que hoje não estão disponíveis para os cafeicultores. A agricultura ainda está muito no modelo convencional justamente por falta da conectividade adequada para essas situações”, complementa.

Quando se compara a tecnologia aplicada na cafeicultura com outras produções, os resultados mostram que há sim uma grande diferença entre elas, principalmente quando se faz o comparativo com o setor de cereais. “Porque nas demais culturas você importa essa tecnologia já pronta por meio da aquisição de máquinas. No caso do café, toda a tecnologia é desenvolvida no Brasil, dificilmente se importa alguma coisa em termos tecnológicos para a cafeicultura”, afirma.

A responsabilidade de ser o maior produtor e exportador de café do mundo pesa também quando o assunto é esse avanço tecnológico. Para Albinati, já que o Brasil é líder na produção neste segmento, também tem como obrigação e dever de casa avançar nas pesquisas que tragam máquinas eficientes para o café. “Isso vai depender claro de investimentos, vai depender ainda de um fomento maior de várias organizações para que essa tecnologia não seja só desenvolvida, seja evoluída, seja aplicada porque existe ainda certo tradicionalismo na cafeicultura o que dificulta um pouco a absorção de novas tecnologias, mas isso ano a ano está sendo reduzido”, finaliza. 

tecnologia no campo

Internet 5G e conectividade: Quando chegam? 

Há pouco mais de um ano o Governo Federal anunciou a instalação da primeira antena rural para internet 5G no país. A instalação teste foi realizada no município de Rondonópolis, no Mato Grosso. Na época, havia a expectativa que, em um futuro próximo, novas instalações fossem realizadas em larga escala para beneficiar os produtores nas mais diversas culturas na redução de custos, ganho de produtividade com suporte de drones e sistema de posicionamento global (GPS).

“Máquinas como tratores poderão funcionar de forma mais autônoma. Além disso, informações precisas sobre o comportamento e a saúde de animais poderão ser obtidas de forma bem mais detalhada, bem como sobre as condições climáticas”, destacou a publicação, o que vai ao encontro das necessidades que o produtor de café ainda enfrenta no campo, um ano depois. 


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reconhece que além das facilidades, a conectividade afetiva ajudará o produtor inclusive na redução de custos e minimizar as perdas na produção agrícola de modo geral. O monitoramento remoto, por exemplo, a partir dos sensores, poderá permitir a medição de temperatura e avaliação climática e hídricas imediatas nas lavouras. 

“A digitalização do agronegócio reforçará o papel do Brasil como protagonista no cenário mundial de produção de alimentos a partir da redução de custos e diminuição de perdas na produção, levando, inclusive, cidadania, conhecimento e oportunidades aos produtores rurais de áreas remotas”, disse o MAPA na época. 

conectividade na área rural

Mas e as atualizações? 

Podemos entender então que já tem algum tempo que o setor do agronegócio fala na tão sonhada “tecnologia 5G”, e a última atualização por parte do Governo Federal foi no início do mês de maio, com a participação do Ministério das Comunicações (MCom) no Painel Telebrasil 2022, onde se discutiu o impacto da conectividade no setor financeiro do Brasil. 

Segundo as informações divulgadas pelo Ministério, um estudo da Nokia, indicando a chegada dessa conexão no Brasil, poderá gerar uma receita econômica de R$ 1,2 trilhão até o ano de 2035. 

Entre as pautas, se destacavam as lacunas apontadas por Albinati. Segundo Nathalia Lobo, secretária de Telecomunicações, a internet de alta velocidade também permitirá facilidades na logística – outro ponto de importância para a cadeia do agronegócio de modo geral. A ideia é que o 5G permita que a logística de carga conte com a possibilidade de monitoramento online, documentos digitalizados e o ingresso da Internet das Coisas. 

“Não é só mais um ‘G’. Vamos sair de uma banda larga para uma internet massiva, com vários dispositivos integrados e otimização de estoques, tudo para conseguir chegar ao consumidor final de uma forma mais inteligente”, afirmou Nathalia.

O Mapa destacou ainda que a ideia é que a tecnologia esteja disponível em todas as capitais brasileiras ainda em 2022, mas nas demais cidades apenas no final da década. “A intenção é promover inclusão digital para os brasileiros que ainda não possuem acesso à conectividade, gerando uma nova demanda para o comércio eletrônico”, afirmou a publicação do início do mês de maio e assinada pelo Governo Federal.

tecnologia no campo

É de vital importância para a cafeicultura brasileira a ampliação da conectividade no campo. Do uso de máquinas autônomas ao acesso a previsões climáticas, é essencial que os produtores e as produtoras do país consigam evoluir e acompanhar a evolução tecnológica da qual outros setores do agro já usufruem. Assim, o setor conseguirá mais competitividade frente aos outros mercados. 

Créditos: Divulgação CNA (destaque/colheita com maquinário autônomo; cafeicultor com laptop); Bioma Café (lavoura e microlotes); Gustavo Sturm (foto frutos maduros); Agência Brasil (primeira antena 5G).

PDG Brasil

Quer ler mais artigos como este? Assine a nossa newsletter!

Compartilhar: