Brasileiro gosta de garrafa térmica e ninguém pode negar. É um equipamento presente nas casas, estabelecimentos, escritórios, restaurantes, padocas da esquina, enfim. Onde tem café, no geral, tem uma garrafa térmica (ou até mais de uma).

Ficar sem café para muita gente não é uma opção, então fazer uma quantidade que dure um período do dia é uma escolha para driblar a correria da rotina, economizando tempo e garantindo a dose de cafeína a qualquer momento.

Mas será que isso na verdade não pode se tornar um tiro no pé? Realmente, vale a pena? Se for para deixar um café ali de prontidão para ir tomando no decorrer do dia, talvez existam algumas dicas para otimizar todo esse processo mais gentil com a bebida que tomaremos?

Sem julgamentos, o PDG Brasil traz reflexões e muitas dicas para você pensar sobre essa relação com a garrafa térmica e a maneira de consumir seu café de todo dia. Você não pode deixar de ler até o final.

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A oxidação e seus efeitos sob o café

Há quem diga que os maiores consumidores de café aqui no Brasil são o ralo e o esgoto, pela quantidade da bebida armazenada em garrafas térmicas que são descartados. Isso por conta desse hábito de fazer quantidades grandes para compartilhar ou ir tomando ao longo de um determinado período do dia.

Mas chega uma hora que, por mais que tenha café ali na garrafa térmica, ele já mudou tanto, perdeu sabor, aroma e tudo o que poderia haver de bom naquelas doses. E, pior, é nessa hora que ele já passou pelo processo da oxidação, que pode trazer malefícios ao corpo, como azia, tontura, enjoos ou até dor de cabeça, reclamações recorrentes que muita gente relata ao consumir o café, alegando que não faz bem.

A oxidação é uma reação química natural e inevitável, que age degradando substâncias como a cafeína e os óleos presentes no café. Esse processo começa em média após 20 minutos do preparo do mesmo, por isso se fala tanto sobre consumir o café sempre fresco, preparado na hora.

A garrafa térmica como vilã

O próprio nome já entrega o início de uma questão problemática sobre o uso da garrafa térmica considerando café quente, que é o cafezinho nosso de cada dia. Térmica se refere à temperatura, e, no que diz respeito ao hábito brasileiro, acaba sendo mais usado para a manutenção de temperaturas quentes.

“A garrafa térmica sempre foi taxada como inimiga, por conta do despreparo de quem faz o café, eu diria”, comenta Gabriel Guimarães, barista consultor e responsável pelo controle de qualidade pela Unique Cafés.

“O café contém naturalmente uma quantidade de açúcar, e mesmo que você não adoce seu café antes de colocá-lo na garrafa, trará um parâmetro não favorável. Isso porque, junto com o açúcar e a alta temperatura, chega também a pressão. Ao fechar sua garrafa térmica, o líquido dentro tem o ambiente perfeito para iniciar um processo fermentativo indesejado, e esse sim é o grande vilão.”

“Outra questão é que, quanto mais rápido o café for consumido, melhores serão o sabor e suas características preservadas. Mas daí vem a garrafa térmica com o intuito de preservar a temperatura desse café para que ele possa ser consumido depois. Considere então necessário um entendimento e acompanhamento de sabor, para ver até quando esse café estará aceitável.”

A garrafa térmica como aliada

Por suas experiências, Gabriel comenta que em garrafas térmicas mais profissionais é possível segurar bem a bebida por volta de 40 minutos a uma hora, mas depois disso ele já começa a ter uma queda considerável, sendo necessário preparar um novo café.

“Então, pensando por outro lado, a garrafa térmica pode sim ser uma amiga, dependendo do uso que será feito dela: seja em um dia em que você vá acampar, ou em um piquenique, até mesmo em uma operação de cafeteria que tenha muito movimento de café coado e é preciso agilizar esse processo de atendimento.”

Que fique claro: “a garrafa térmica é sua amiga a partir do momento em que você respeita ela. Se você desrespeitar tudo aquilo que ela traz de ‘regrinhas’, ela passa a ser sua inimiga”, reforça Gabriel.

Ele propõe inclusive uma adaptação de hábito e pensamento: “você já parou para pensar que uma garrafa térmica pode servir tanto para bebidas quentes, quanto para as geladas? Por que não carregar um cold brew bem geladinho nessa garrafa térmica em vez do café quente? Como o café estará frio, não ocorrerá fermentação. Mas lembre-se que, mesmo assim, nunca é recomendado deixar por um longo período de tempo”.

Existe uma garrafa térmica ideal, seja para café quente, seja para café gelado?

Ideal mesmo é fazer o café para ser consumido na hora, ou dentro de um período curto. Mas que atire a primeira pedra quem não vai deixar de usar a boa e velha garrafa térmica. Então vamos juntos entender qual modelo pode funcionar melhor em todas as situações.

Gabriel sempre busca olhar para a composição desses equipamentos: “acredito que essas garrafas térmicas que tenham um revestimento em inox, acabam sendo mais indicadas por uma questão de resistência, pois não quebram facilmente”.

“Se puder, evite as garrafas com acabamentos plásticos, pois muitas vezes na própria tampa, por onde o café passa, ele acaba tendo contato maior com o plástico na hora do serviço e isso pode trazer um residual indesejado.”

“Olhe também a questão das garrafas de apertar, seu material e como é feita considerando a resistência e sua construção, pois algumas acabam sendo frágeis demais, e não valem a pena sequer o investimento por mais baixo que possa ser.”

Uma referência no mercado de café é a empresa Bunn, conhecida mundialmente, que atua no Brasil hoje atendendo o nosso mercado com modelos de garrafas térmicas para uso mais comercial, como em redes de fast food famosas sendo uma grande referência. “Já desenvolvemos vários testes técnicos, pensando nos cafés especiais, e vimos que essas garrafas da Bunn funcionam dentro desse respeito com o tempo que o café fica ali dentro”, comprova Gabriel.

“Um exemplo muito bom das garrafas, indo para um lado mais técnico, é o próprio Coffee Of The Year, que acontece no Brasil, e é um campeonato de café especial onde o público presente na própria feira onde ele acontece, a SIC (Semana Internacional do Café), é quem irá escolher qual o melhor café. Eles são apresentados nessas garrafas térmicas, só que existe ali um profissional que fica mapeando o sabor desses cafés durante o ciclo, e assim que ele sente alguma imperfeição, no início do processo oxidativo, é filtrado um café novo para repor na garrafa.”

Dicas de ouro para escolher sua garrafa térmica com consciência e usá-la da melhor maneira possível

Mas eu não sou uma rede de fast food famosa, nem uma cafeteria, e ainda sim quero tomar o melhor café que puder, mesmo fazendo uso de uma garrafa térmica, você deve estar pensando. Então preste atenção nas seguintes dicas:

• Comece tendo uma garrafa só para o café. “Por experiência própria, as garrafas mais comerciais são mais difíceis de limpar, acaba sempre ficando um aroma ou outro, de um chá ou algo que se tenha usado anteriormente, e isso pode sim afetar a xícara de café”, comenta Gabriel;
• Olhe muito bem para a construção da garrafa térmica, procure entender como ela é fabricada;
• Evite garrafas que tenham muito índice de plástico em sua composição / estrutura;
• Olhe sempre a parte de dentro, onde o café em si irá ficar: como ela é feita, se seu acabamento é minimamente bom. As mais comuns hoje em dia são com aquele vidro de isolamento térmico, presente na maioria das vezes nas garrafas mais plásticas (menos indicadas);
• “Hoje em dia já temos garrafas térmicas com o isolamento térmico com base em inox, que acho as melhores opções, até pensando em resistência e durabilidade da própria garrafa e não só no armazenamento do café”, comenta Gabriel;
• Analise o modelo que será usado, considerando essa questão da cabeça da garrafa, por onde o café sai. Observe como ela é construída, se o plástico não é muito frágil, se minimamente existe qualidade de acabamento nessa região onde afinal o café passará, e isso pode trazer algum sabor residual, ou algo nesse sentido;
• Higienização é fundamental. “Hoje em dia existem produtos específicos para a higienização adequada de equipamentos de café. Talvez o público geral saiba pouco ou nada sobre isso, mas de tudo o que tenho testado aqui em casa, a base principal desses produtos é o bicarbonato de sódio, que tem um poder positivo na remoção dos óleos e sujeiras residuais do café”, esclarece Gabriel.

Obviamente que esse tipo de produto apresenta outra composição, sendo os mais conhecidos no Brasil hoje o Cafiza (usado para limpeza de máquina de espresso, e outros tipos de equipamentos) e o CoffeeLav (encontrado com mais facilidade), mas em ambos os casos a base principal é o bicarbonato de sódio.

“Na falta desses produtos, é possível jogar uma água quente junto com bicarbonato de sódio, fazendo assim uma boa higienização de seu equipamento em casa. Lembre-se só de escaldar bem, passar água quente depois, para retirar possíveis resíduos do bicarbonato de sódio.”

Tudo nessa vida são escolhas. No caso do café, sempre são muitas. Não vai ser só o grão de qualidade, moído na hora ou não; não vai ser só a água, de boa procedência ou não; não vai ser só a garrafa térmica, bem cuidada ou não.

Preparar o café em quantidades menores ajuda a evitar o desperdício e te proporcionará sempre uma ótima experiência. Mas, se precisar de uma garrafa térmica amiga, agora já sabe como cuidar melhor da dose contida ali dentro.

Boas doses são uma conjunção de escolhas, o mais importante é você ter em mãos as ferramentas necessárias para extrair o melhor de cada uma delas.

Créditos: Banco de imagens (destaque: café servido na garrafa térmica de inox; preparo de café; garrafa térmica de vó; garrafa térmica sendo útil em acampamento; agilidade na operação de cafeteria com o café coado; piquenique com café; café de térmica para preparo de drinques).

PDG Brasil

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