23 de junho de 2022

A importância das certificações e das práticas ESG no agro hoje

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ESG, três letras que têm muito a dizer. A sigla faz referência ao cuidado com o meio-ambiente, às relações sociais e à governança corporativa (do inglês, Environment, Social and Governance). 

Hoje a cultura ESG faz parte do cotidiano de empresários em vários setores da cadeia produtiva num mercado cada vez mais pautado por ações que gerem impacto positivo para além dos resultados financeiros. 

Não à toa. A demanda vem do mercado, que segue valorizando empresas e demais organizações alinhadas às questões socioambientais entre suas prioridades, atuando de forma responsável em todas as etapas de sua cadeia de produção, abastecimento e vendas.

Empresas que seguem os princípios ESG percebem maior valorização da marca, refletindo na preferência dos consumidores e em sua fidelização. Mais que isso, há melhores oportunidades de crédito, investimentos e parcerias no mercado. 

Tudo isso porque os critérios que norteiam o ESG são meios para que se possa identificar empresas que possuem valores sólidos, que vão além de quadros com dizeres bonitos pendurados em suas paredes. 

As empresas que têm esse protocolo como diretriz costumam ter consciência de seu papel social e buscam ativamente gerar impacto positivo em termos de preservação da biodiversidade e de entregar melhorias à sociedade como um todo. 

Para entender mais sobre o tema, o PDG Brasil foi conversar com especialistas e produtores que conhecem o tema e praticam esses valores em suas empresas.

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café sustentável

O ESG no agro

Uma das áreas onde as práticas ESG reverberam com cada vez maior intensidade é o agronegócio, um dos pilares da economia brasileira, representando 27,4% do PIB segundo cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA – USP), e setor no qual o país é um dos principais players em escala global, liderando o comércio de itens como café, soja e etanol, entre outros. 

O agro é setor fundamental na economia brasileira não só pelos resultados que gera, mas também pela quantidade de postos de trabalho que abre e por ter um potencial latente de ser ponta de lança para ações de preservação ambiental por conta da sua onipresença no território nacional. Embora, no passado, tenha sido identificado como um setor de impacto negativo em temas relacionados a essa área, hoje o agronegócio brasileiro conta com muitos atores cientes de que precisam fazer sua parte para reposicioná-lo e, por isso mesmo, vêm com muito bons olhos a caminhada rumo à realização de boas práticas ESG. 

práticas ESG

Certificações como aliadas

Estar em sintonia com práticas ESG é praticamente questão de sobrevivência hoje. Para nortear os produtores em como adequar suas rotinas e sua produção a esses preceitos existem algumas certificações que destacam justamente as boas práticas das fazendas em determinadas áreas. 

Dentre elas, pode-se destacar o selo conferido pela Rainforest Alliance, organização internacional sem fins lucrativos que trabalha para criar um futuro melhor para as pessoas e a natureza. 

Essa certificação, reconhecida mundialmente, indica que o produto ou um ingrediente certificado contido no produto foi produzido considerando os três pilares da sustentabilidade: fatores sociais, econômicos e ambientais.

Segundo Cassio Souza, responsável pelo programa de certificação da Rainforest Alliance, as fazendas interessadas em obtê-la devem se familiarizar com a norma de agricultura sustentável e se certificarem de que os requisitos mínimos para sua obtenção estão implementados na fazenda. 

Somente depois dessa autoanálise os produtores devem realizar seu cadastro na plataforma da certificadora e então agendar uma auditoria que verificará se as práticas estão mesmo dentro dos parâmetros desejados. 

“As fazendas certificadas Rainforest Alliance adotam práticas agrícolas mais sustentáveis, que contribuem para a manutenção da biodiversidade, da saúde do solo e das águas, além da redução no uso de pesticidas e da conservação do ecossistema natural”, diz ele.

práticas ESG

Cassio conta que “hoje em dia, a Rainforest tem um programa de certificação robusto e reconhecido no mercado interno e externo, que ajuda os produtores e as produtoras a se adaptarem aos efeitos nocivos das mudanças climáticas, aumentarem a sua rentabilidade e produtividade por meio de práticas agrícolas climaticamente inteligentes e conquistarem novos clientes e mercados”. 

Ele afirma ainda que, com a melhoria das práticas sociais e econômicas, os trabalhadores das fazendas possuem melhores condições de trabalho, permitindo às fazendas aumentarem sua produtividade e lucratividade, além de ganharem maior acesso a mercados que exigem certificação para comercialização de seus produtos, como o café. 

E isso faz com que elas se enquadrem nos pilares ESG, abrindo cada vez mais portas e oportunidades de negócios.

Giovanna Garcia, Gerente de Negócios Sustentáveis da Rainforest Alliance, vai mais além. “Os produtos certificados beneficiam todos os envolvidos na cadeia produtiva. Os agricultores e trabalhadores ganham acesso a meios de subsistência sustentáveis e aprendem práticas de manejo sustentável do solo e da plantação. As fazendas certificadas pela Rainforest Alliance também precisam incorporar melhores condições de trabalho e de salário para trabalhadores do campo, além de implementar práticas de fomento à igualdade de gênero e atuar na prevenção de trabalho forçado e infantil”, explica. 

“As marcas e empresas passam a ter ferramentas para mitigar os riscos envolvidos na cadeia produtiva por meio da rastreabilidade do produto certificado, atendendo a crescente demanda dos consumidores por produtos mais transparentes e sustentáveis”, diz Giovanna. 

Quando se trata dos consumidores, a especialista ressalta que eles também têm a possibilidade de investir em produtos que geram impacto social e ambiental positivo para a natureza e os agricultores.  

“Isso traz mais transparência às relações comerciais em todas as fases da cadeia e segurança a todos os envolvidos no sentido de que toda essa movimentação tem um lastro de positividade.”

certificação rainforest alliance

Retorno financeiro e outros resultados na prática

Gabriela Toratti, proprietária da Fazenda Segredo, que produz café na Serra do Salitre, região do Cerrado Mineiro, destaca que a certificação é uma importante ferramenta de gestão e, apesar do custo para a sua obtenção e manutenção, é algo que vale a pena ter como prioridade em sua rotina de gestão. 

“Isso me ajuda a manter minha propriedade mais organizada. Vejo a certificação como um importante mecanismo para garantir que a minha fazenda tenha boas práticas de sustentabilidade, de conservação do meio ambiente e no relacionamento com os colaboradores”, explica. 

Para ela, a certificação explicita essa preocupação para terceiros. “Seja os possíveis compradores ou até mesmo parceiros como fornecedores ou entidades financeiras que passam a oferecer melhores condições para a aquisição de crédito para investimentos na propriedade.”

Em termos de retorno, Gabriela afirma que o prêmio e as vendas geralmente são um bom atrativo para manter em dia a certificação e, mesmo em momentos mais delicados, ela não abre mão de selos como o Rainforest Alliance. 

“Geralmente tenho um bom retorno por estar associada a uma certificação como a Rainforest Alliance, porque ela me ajuda a abrir muitas oportunidades. Num ano como 2021, em que tivemos ocorrência de geadas, esse retorno acabou sendo prejudicado pela diminuição no volume e pela qualidade da safra. Isso fez com que o custo com as auditorias praticamente empatassem com o retorno em vendas. Apesar disso, optei e continuaria optando por manter em dia a certificação, porque os benefícios vão além do retorno financeiro.”

importância das certificações

Respeito e coletividade 

No mesmo caminho segue Gabriel Baroni, responsável por certificações na Carlini Avocados, empresa que atua desde 1989 na produção de abacates e hoje é uma das principais no cultivo e na exportação desse fruto do Brasil. 

“A certificação Rainforest Alliance é uma das mais criteriosas e extensas, analisando aspectos ambientais, sociais, agrícolas e de gestão da propriedade. Ela expõe a necessidade de uma agricultura cada vez mais sustentável e mostra que é possível obter altas produtividades conciliando a proteção do meio ambiente e bem-estar social”, explica Gabriel. 

Além disso, para ele, essa certificação garante que o consumidor, ao optar por um produto certificado, está comprando algo que vem de uma propriedade que visa a produção de pensando no bem-estar de sua comunidade e ambiente. “Isso traz visibilidade e credibilidade no mercado, já que os critérios para aprovação na certificação dão a certeza de que a propriedade está respeitando o meio ambiente e toda a sociedade que a rodeia.”

Gabriel ressalta ainda que há um grande chamado à responsabilidade e a mudanças positivas no relacionamento entre os proprietários e seus colaboradores e até mesmo desses trabalhadores entre si. “A norma Rainforest Alliance exige a criação de comitês formados por colaboradores de todas as áreas, homens e mulheres, para conscientização de todos sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, além da implementação de mecanismos de queixa, em que qualquer pessoa possa expressar, de forma anônima ou não, pontos de melhorias, reclamações ou denúncias”, conta. 

Esses pontos devem ser analisados pelos comitês e respondidos de forma pública para que todos tenham acesso às propostas de resolução. “Esses mecanismos geram segurança entre os colaboradores, que sabem da sua importância para o sucesso da certificação e melhora do ambiente de trabalho.”

agricultura sustentável

Gabriel Carlini aproveita para destacar ações da Rainforest Alliance para a promoção da união em prol de uma agricultura mais sustentável. “Quando falamos em agricultura sustentável, devemos nos manter sempre atualizados, buscando novas tecnologias e técnicas para produção.” 

“Como o tema ESG é uma pauta frequente nos dias de hoje, felizmente há muitos congressos, palestras e trabalhos acadêmicos sendo realizados sobre sustentabilidade de um modo geral. Além desses meios, sempre existe a boa conversa com os produtores vizinhos e parceiros, compartilhando sucessos e falhas, buscando uma melhor compreensão e melhorias constantes nos processos para que todos caminhem na direção de uma agricultura produtiva, que respeite cada vez mais nosso meio ambiente.”

práticas esg

Isso mostra como produtores e produtoras do Brasil vêm se preparando para se adequar a uma nova realidade onde não mais basta ser rentável, produtivo e competitivo. É necessário ter consciência de seu impacto sobre a biodiversidade e a sociedade, porque tudo está interligado e é interdependente. 

Nesse contexto, estar alinhado com os princípios ESG, especialmente com a chancela de certificações nacionais e internacionais, é vital para a permanência do setor em posição de relevância e protagonismo no país e no mundo.

Créditos: Divulgação Fazenda Segredo (Gabriela Toratti no cafezal/destaque; e frutos de café maduros); Divulgação Rainforest Alliance (reunião de produtores sob árvores; trator; oficina sobre a certificação e produtora com cartaz); Cuia Guimarães/Divulgação Carlini Avocado (produtores Cecília e Gabriel Baroni; avocado brotando).

Observação: A Rainforest Alliance é uma patrocinadora do PDG Brasil

PDG Brasil

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