Qual é a importância da correta incidência da luz solar no cafeeiro
O cafeeiro é uma planta muito influenciada pela incidência da luz solar, assim como pela temperatura do ambiente. Esses fatores são responsáveis diretamente por diferenciação de gemas, velocidade de amadurecimento de frutos, crescimento da árvore e suscetibilidade a doenças e pragas.
Para entender mais detalhadamente como a incidência da luz solar afeta o desenvolvimento dos pés de café, o PDG Brasil conversou com José Carlos de Oliveira, que atua como consultor de manejos em cafés especiais e instrutor do SENAR. Siga lendo para saber mais sobre o tema.
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Conceitos básicos de fotossíntese
O engenheiro agrônomo José Carlos de Oliveira, que tem como foco de seu trabalho a gestão e o manejo de lavouras sustentáveis de café, conta que, para entender a respeito da importância da incidência de luz solar no cafeeiro, é preciso relembrar de conceitos aos quais normalmente se tem acesso em aulas durante o ensino médio, como o funcionamento da fotossíntese.
“As plantas são autotróficas, produzem seu próprio alimento por meio da fotossíntese, que é a absorção da luz do sol através da clorofila, que processa CO2 e água e produz oxigênio e compostos orgânicos, os alimentos das plantas. A partir desses compostos orgânicos, os vegetais produzem compostos secundários que são responsáveis pelo seu crescimento, desenvolvimento, florescimento, maturação dos frutos e pela saúde das plantas.”
José Carlos ressalta ainda alguns compostos não essenciais para a vida da planta, mas que aos apreciadores de cafés têm grande relevância. Eles se formam no interior dos pés de café devido à forma com que os raios solares neles incidem.
“O cafeeiro tem uma produção de fenóis que provêm das reações químicas entre os compostos originados na fotossíntese e alguns micronutrientes como o manganês, entre outros. Esses fenóis são os responsáveis pelas nuances de sabor e aroma da bebida, por isso também é vital para o valor comercial dos grãos que haja uma exposição correta à luz do Sol.”

A influência da luz solar no desenvolvimento do café
O Sol exerce influência direta no desenvolvimento do cafeeiro, afetando o crescimento e a coloração das folhas, entre outros aspectos. Até mesmo o volume e a qualidade da produção dos frutos tem relação com a forma e a intensidade com que a planta é exposta à luz solar.
Segundo o agrônomo, é importante até mesmo se preocupar com a direção da luminosidade em relação às plantas para que possa ocorrer de forma apropriada seu desenvolvimento.
Ele explica que, considerando o movimento de leste a oeste do Sol e o seu deslocamento ao longo do ano, além da influência da latitude para entendermos de que forma a luz incide sobre uma lavoura, percebe-se que sempre haverá momentos em que as plantas estarão expostas à luz assim como períodos em que ela não receberá essa luminosidade de forma direta.
“Podemos dizer em linhas gerais que as plantas que recebem a maior parte da luz solar logo no início da manhã têm maior tendência a apresentar como maiores desafios em seu cultivo o desenvolvimento de doenças como ferrugem e phoma, enquanto as que recebem muito Sol nas horas mais quentes da tarde tendem a ter suas folhas queimadas e a desenvolver doenças como a cercosporiose, que é popularmente conhecida como ‘olho pardo’”, afirma José Carlos.
Segundo ele, pode-se observar que a face dos cafeeiros voltada para o Sol da manhã apresenta folhas maiores e com um tom mais escuro de verde em comparação com as plantas da face oposta, que recebem maior incidência de luz solar à tarde.
A diferença se dá também na tendência à desfolha, que é maior nos pés de café da face cuja luz incide no período vespertino. Esses também sofrem mais com a presença de fungos que causam doenças, por passarem mais tempo umedecidos pelo orvalho ou pela irrigação recebida ao longo do dia.

Sol demais, não
O consultor afirma que o excesso de exposição ao Sol pode causar danos ao longo do desenvolvimento das plantas. “A exposição direta da planta de café à luz solar pode interferir na qualidade da colheita, na diferenciação das gemas e traz a possibilidade de aborto das flores, além de influenciar na velocidade do amadurecimento, acelerando-a.
Essa aceleração no amadurecimento tem efeito prejudicial no sabor, que fica subdesenvolvido. O excesso de luz solar, além de aumentar a incidência de pragas e doenças, também diminui a produtividade devido ao aumento na temperatura. “O cafeeiro não tolera temperaturas acima de 30 graus celsius”, explica.
Segundo ele, essa preferência do cafeeiro por climas amenos e incidência indireta de luz solar remonta à sua origem, já que a planta é natural da área montanhosa da Etiópia, no noroeste Africano.
“O cafeeiro é uma planta nativa do continente africano, mais precisamente das regiões mais elevadas da Etiópia, onde cresce em meio a bosques. Sua origem, portanto, é uma região de clima ameno, e é da própria natureza dos pés de café se desenvolverem melhor com a luz incidindo de forma indireta. Por isso o sombreamento é mais indicado do que a plantação a pleno-sol para a obtenção de cafés especiais.”

Vantagens do cultivo sombreado
José Carlos aponta as vantagens que as plantações sombreadas têm sobre as convencionais, situadas a pleno sol:
- Produção de bebidas com melhor qualidade;
- Plantas mais vigorosas;
- Proteção contra o excesso de luz UV;
- Diminuição no uso de agroquímicos, tanto defensivos quanto fertilizantes;
- Aumento de matéria orgânica no solo;
- Favorece a biodiversidade;
- Aumento na produção de fito-hormônios;
- Aumento na flora microbiana que auxilia no desenvolvimento das plantas.
Ele afirma ainda que, quando o café é produzido em sombreamento, apresenta maior teor de açúcar e lipídeos, além de ter grãos maiores. Isso aumenta o rendimento em peneiras 16 acima e realça atributos como acidez e corpo, características fundamentais em bebidas de pontuação mais elevada.
O agrônomo salienta ainda que o único aspecto que pode apontar como negativo é que o sombreamento impossibilita a mecanização das lavouras, sendo pouco interessante para produtores que possuem extensão muito grande de terras em topografia que favoreça o uso de maquinário como forma de dinamizar a produção e reduzir custos.

Sustentabilidade como caminho
José Carlos argumenta que a exposição ao excesso de radiação ultravioleta, altas temperaturas e chuvas fortes é prejudicial ao desenvolvimento das plantas, mas que as lavouras tradicionais têm outros efeitos colaterais bastante danosos à biodiversidade. “Elas são hostis à vida selvagem e proporcionam terreno fértil para pragas e doenças que são combatidas com o uso de agroquímicos cujos resíduos impactam diretamente na sobrevivência da flora e da fauna, castigando os biomas de suas regiões.”
Segundo o engenheiro agrônomo, é preciso avançar no conceito de sustentabilidade para que ela não seja entendida como a sustentação do status-quo, mas sim um avanço rumo a uma agricultura que possa frear as consequências drásticas que devem chegar num futuro não muito distante.
José Carlos acrescenta ainda que outra solução interessante é o plantio de café em consórcio com outras culturas. “A consorciação da lavoura de café com outras culturas é uma abordagem dinâmica e ecológica do manejo de recursos naturais. Ela promove a integração de diversos alimentos, forragens, madeira e árvores de sombra em paisagens agrícolas, amenizando a incidência solar no cultivo”, explica.
“Uma vez instalados, os sistemas bem mantidos requerem poucos insumos como fertilizantes e agroquímicos e são naturalmente resistentes a pragas e doenças, reduzindo assim os custos e a mão de obra dos cafeicultores.”

A incidência solar impacta diferentes aspectos do desenvolvimento do cafeeiro. Das folhas às características sensoriais da bebida, há uma grande influência do Sol no café.
O estudo da face onde estão plantados os cafeeiros e buscar alternativas, como os cultivos sombreados e consorciados, são alguns caminhos para aproveitar ao máximo essa combinação do Sol com o cafeeiro, proporcionando lavouras produtivas, mais econômicas e com maior valor agregado.
Créditos: Acervo José Carlos de Oliveira (café consorciado com mamão/destaque; cafés sombreados; café a pleno sol/foto 3; José Carlos na lavoura);
PDG Brasil
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