21 de abril de 2022

Guia básico de análise do solo

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Aparentemente a análise do solo é um item importante presente na cartilha dos produtores, não só do ramo cafeeiro. Mas será que existem muitos mistérios para serem desbravados quando se trata desse assunto?

O que é? Qual a importância? E quais caminhos a serem percorridos pelos produtores que buscam refinar seus processos na lavoura, considerando a análise do solo?

O PDG Brasil compilou informações preciosas, práticas e objetivas, criando um pequeno guia prático sobre esse assunto. Sem mistérios, vem com a gente até o final saber por onde começar quando se fala em análise do solo.

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análise de solo

O que é análise do solo?

Ninguém tem obrigação de saber tudo e, dada a importância desse assunto no desenvolvimento dos processos de uma lavoura, vamos então cavar fundo para entender de uma vez por todas o que é a análise do solo.

Jonas Leme Ferraresso é engenheiro agrônomo, produtor de café há 20 anos e consultor há 10 anos pela Primo Consultoria em Cafés Especiais e Orgânicos. Segundo ele, a análise do solo nada mais é do que o exame básico utilizado por agrônomos e técnicos para entender o solo, seus nutrientes e as características físicas e químicas ali presentes. “É como se fosse um exame de sangue do solo”, comenta Jonas.

“É fundamental que seja feita uma análise de solo, pois sem ela a tomada de decisão sobre qualquer caminho é praticamente impossível, tudo vira um ‘chutômetro’, o que não é nada seguro.”

“Com uma análise de solo bem feita, o agrônomo é capaz de pensar em estratégias para mitigar o problema da provável falta de certos fertilizantes, por exemplo, podendo até um certo limite substituir parcialmente adubos solúveis por orgânicos, utilizar técnicas de cultivo de adubos verdes, montar misturas mistas de adubos solúveis e orgânicos para aumentar a eficiência da fertilização, utilizar as reservas do solo etc.”

nutrição lavoura de café

O que tem a ver a adubação com o processo de análise do solo?

Aproveitando, e trazendo esse gancho, Jonas comenta que a adubação é uma das partes do plano de fertilização do solo.

Para ele, considerando o ponto de vista do agrônomo, as etapas principais são:

  • entender o solo com a análise;
  • entender o clima e o bioma natural da região, com observações de campo e dados climatológicos;
  • conhecer o histórico da área com o produtor;
  • checar qual será a cultura (ou culturas) de interesse de cultivo. Caso sejam perenes, como o café, avalia-se em que estado elas estão e quais serão as suas produtividades;
  • finalmente, avaliar qual será a tecnologia que será utilizada neste plano de fertilização.

“Com todo esse levantamento e planejamento feito, o agrônomo decide qual será o modelo mais adequado para aquela propriedade específica e situação, como adubar, quais matérias-primas utilizar. Por exemplo, o café precisa de um balanço nutricional específico de solo, que é diferente do milho, que é diferente da laranja, e por aí vai”, comenta Jonas.

O uso de fertilizantes pode impactar, e muito, o produtor e seus fluxos de lavoura (considerando questões de qualidade na colheita e a lavoura em geral, a questão financeira, a produtividade etc.).

“Os fertilizantes minerais ou orgânicos têm a função de suprir os nutrientes que são exportados do campo com a colheita, ou usados em processos metabólicos. Por exemplo, uma saca de café ao ser colhida leva embora do sistema volumes consideráveis de nitrogênio, fósforo, potássio e zinco, entre outros. Isso ocorre em nível bem menor na natureza, onde o sistema é mais fechado e cíclico.”

“Na agricultura, caso esses nutrientes não sejam repostos com fertilização, o solo vai se degradando, as plantas de café vão definhando, e as produtividades consequentemente caindo.”

“Uma planta mal nutrida fica mais doente, sofre ataque de mais pragas, suas sementes perdem qualidade e vão ficando menores. No caso do café, as consequências de uma adubação deficitária afetam as produtividades por dois anos ou mais, para se ter ideia.”

análise de solo

Quem, e quando procurar, para que seja feita uma análise de solo?

Jonas esclarece que a análise de solo deve ser feita por laboratórios credenciados e certificados por órgãos reguladores e fiscalizadores (a garantia da qualidade de análises é uma competência do INMETRO, o órgão fiscal responsável, seguindo padrões ABNT e ISO), garantindo que os resultados recebidos tenham boa confiabilidade, e também que o agrônomo possa usar os dados e resultados apurados para montar um bom plano de fertilização.

A melhor época para que a análise de solo seja feita, dependerá de região para região, de cultura para cultura, e da avaliação do agrônomo responsável. Para Jonas: “nas condições brasileiras de cultivo de café, esse período geralmente vai de abril até junho.”

“É recomendável que se faça a análise anualmente, podendo em alguns casos considerar até duas vezes ao ano. É importante também que as coletas sejam feitas sob orientação de um agrônomo, pois ela deve seguir um protocolo específico de amostragem, garantindo que os dados do laboratório sejam representativos aos aspectos gerais da área.”

“Por fim, a análise do solo deve, na maioria das vezes, vir acompanhada de uma análise posterior das folhas. Isso permite que o agrônomo entenda se a planta absorveu os nutrientes aplicados ou não, e se será necessária alguma complementação.”

nutrição do solo

Um pouco mais sobre as peculiaridades do processo de análise de solo

Para que você conheça um pouco melhor como funciona o processo de análise do solo, Jonas conta mais sobre como funciona esse processo, a fim de desmistificar esse assunto.

  • Sobre os equipamentos utilizados

Existem equipamentos próprios para a coleta de solo para análise, sendo a maioria construída em aço inox para evitar que o material do equipamento contamine a amostra.

Enxadas e cavadeiras de ferro até podem ser utilizadas, porém no ferro é possível encontrar impurezas da liga metálica como zinco, manganês etc., que podem mascarar ou alterar os resultados da análise. Para se ter uma ideia, alguns elementos que estudamos no solo estão na ordem de partes por milhão.

  • Sobre quem leva a amostra ao laboratório

A amostragem pode ser feita pelo próprio produtor, desde que ele siga as metodologias explicadas pelo técnico ou agrônomo. A amostra geralmente é acondicionada em sacos plásticos, rotulada, colocada em caixas de papelão e enviada via Correios ou transportadoras aos laboratórios competentes.

  • Sobre como se dá esse processo

O agrônomo geralmente estuda toda a área de interesse agronômico da propriedade e a segmenta em setores. Essa divisão é baseada em diferenças observadas pelo agrônomo como: coloração dos solos, declividade, material do solo, histórico da área e cultura cultivada.

Após divididos, cada setor será amostrado separadamente e teremos uma, duas ou mais amostras por setor. Isso ocorre porque o agrônomo pode solicitar amostras em diferentes profundidades desse solo, pois o perfil de fertilidade se altera conforme a profundidade. 

“Para que se tenha uma ideia, em culturas como o café, estudamos geralmente o solo de 0 a 20 centímetros e de 20 a 40 centímetros”, comenta Jonas. 

café e nutrição do solo

E os investimentos?

A pergunta que não quer calar: mas quanto custa tudo isso afinal? Jonas nos mostra que a análise de solo é muito barata, se considerarmos os benefícios que ela traz ao produtor e ao meio ambiente no geral.

“No caso específico de custos, na maioria dos laboratórios, uma análise completa de solo custa menos de R$ 70,00. Um saco de café hoje está valendo cerca de R$ 1.000,00. Uma lavoura produtiva tem uma média de produtividade de 35 a 45 sacas de café por hectare, sendo um bom plano de fertilização o responsável por manter essa boa produtividade e aumentá-la.”

“O outro ponto a se considerar é a sustentabilidade ambiental, o que chamamos de adubação consciente, pois todos os fertilizantes ou corretivos podem estar associados a um fator de dano ambiental, sendo eles orgânicos ou solúveis.”

“Colocar adubos sem análise de solo pode levar o produtor a exagerar na dose além das necessidades da planta ou da capacidade de o sistema reter ou processar os mesmos. Esses nutrientes ou materiais podem contaminar (a curto, médio e longo prazo) nascentes e rios. Um agrônomo calcula essa dosagem ideal baseado na análise de solo, evitando também danos como esses.”

nutrição lavoura de café

A dica de ouro para encerrar essa conversa vem do especialista: “separe sua área conforme a orientação de um agrônomo, faça a amostragem conforme o protocolo, utilize equipamentos adequados e livres de resíduos, armazene e identifique cada amostra e profundidade, e envie as amostras a um laboratório certificado.”

Não tem segredo, e o que parecia ser um bicho de sete cabeças é uma prática simples, aplicável, e altamente recomendada por quem entende desse assunto. E, cá entre nós, o maior benefício quem fatura é o produtor, sua lavoura, e o meio ambiente.

Créditos: banco de imagens (destaque: coleta de solo para análise; agrônoma em campo; amostra de solo); Jonas Leme Ferraresso (coleta manual de amostra de solo mais profundo; análise para processo para adubação; coleta manual de amostra de solo mais profundo; resultados positivos em lavoura).

PDG Brasil

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