Cabeça de Xícara: descubra quem é o barista que espalha xícaras pelos muros de SP
Circular por grandes metrópoles é o mesmo que desbravar uma selva de pedras. Por conta disso, o graffiti tem o importante papel de colorir o concreto cinza. Mas qual a relação de café e arte urbana? Assim como um cafezinho é capaz de acalentar o coração, as intervenções urbanas podem proporcionar um verdadeiro agrado aos olhos. Caminhar por algumas regiões de São Paulo tem se transformado em uma visita a uma galeria a céu aberto.
Um olhar mais atento, principalmente pela zona oeste da capital paulista, é capaz de revelar uma série de xícaras sorridentes pintadas nos mais inusitados locais. Para matar a curiosidade dos leitores, o PDG Brasil entrevistou o responsável por transformar o café em arte urbana. Leia a seguir a história desse artista grafiteiro.
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Um jovem cidadão paulistano
João Guilherme Bandeira nasceu em São Paulo, em 1986. Autodidata no mundo das artes, ele teve o primeiro contato com o grafitti, ainda de maneira despretensiosa, aos 12 anos de idade. “Era muito mais na diversão de conhecer os estilos e as técnicas”, revelou. Com a influência do hip-hop e do skate, o jovem se apaixonou pelos estilos old school e cartoon. Os primeiros desenhos foram feitos nos muros da Vila Madalena, da Pompeia e nas linhas férreas da Barra Funda.
Ao atingir a maioridade, o então aprendiz de grafiteiro, também conhecido como Jota, foi convocado a servir ao Exército, e o sonho de viver da arte acabou adormecido. Após o fim do serviço militar, ele se viu sem rumo na vida. Pela força do destino, João Guilherme foi introduzido ao mundo do café por indicação da mãe de um amigo.

Acostumado a beber um cafezinho matinal desde a infância, Bandeira nunca havia pensado que o hábito poderia se transformar em uma profissão. O primeiro trabalho foi no lançamento das cafeterias da rede Havanna no Brasil em meados de 2007. Após adquirir conhecimento técnico operacional, ele começou a atuar como barista e instrutor de barismo.

Um recomeço que conecta café e arte urbana
Depois de passagens por empresas como Cafezal Café, Café Raiz, Carré Caffé, Café Racer e Bravo Café, Jota ainda trabalhou na excelente Cupping Café antes de largar a trajetória promissora em cafeterias da cidade para retomar de vez a antiga carreira artística. “Estava saturado do mercado de trabalho. Eu era feliz e ganhava bem, mas não me sentia completo”, confidenciou.
Para o profissional do café, as idas diárias à Vila Madalena, que é, segundo ele, “um bairro que transborda arte”, deram a coragem necessária para investir na nova empreitada.
Inspirado pelo mundo do café e pela estética das porcelanas brancas usadas nos espressos, o artista barista criou o personagem Cabeça de Xícara, que acabou se tornando um pseudônimo. As xícaras de café com expressões faciais se espalharam por São Paulo e são muitas vezes acompanhadas de mensagens motivacionais ou com temáticas de cunho social típicas do movimento do graffiti.
“O Cabeça surgiu nas minhas idas e vindas ao trabalho exaustivo em cafeterias. Era uma forma de me divertir e relaxar antes das responsabilidades profissionais”, revelou Jota. Para ele, os desenhos podem gerar felicidade, alegrar a vida e até melhorar o humor em um dia difícil.

Café, o combustível da arte urbana
Ao embelezar a cidade com arte urbana, João Guilherme busca ressignificar locais que estão degradados. A ideia é trazer vida e cor para motivar e alegrar as pessoas que circulam pela região. Para ele, as obras devem ser vistas, apreciadas e passíveis de interação com o público.
As pinturas do jovem grafiteiro são influenciadas por coisas do cotidiano, principalmente da cultura da rua. A ideia é que o Cabeça de Xícara sempre fuja do convencional. Para que a inspiração nunca falhe, Jota segue uma rotina cafeinada, que inclui ao menos meio litro de café coado pela manhã e doses de espresso ao longo do dia. Para aliviar o calor, ele não abre mão de preparações geladas.

O que ainda está por vir
Além das intervenções artísticas em ambientes externos, João tem um acervo com telas e diferentes objetos ressignificados disponíveis para venda. Ele também comercializa alguns produtos com a logomarca do Cabeça de Xícara e trabalha em uma linha de colecionáveis no estilo toy art. Para adquirir, basta enviar mensagem pela rede social do Cabeça. O artista ainda é convidado para ações patrocinadas por empresas renomadas.
Ao ser questionado sobre os planos para o futuro, o barista grafiteiro espera conseguir viver em breve exclusivamente dos trabalhos próprios e autorais. Por isso, há no planejamento uma exposição individual. Atualmente, parte da renda de Bandeira é proveniente de colaborações e assistências artísticas a grandes nomes do graffiti.

Agora que você conhece a história por trás do Cabeça de Xícara, não perca a oportunidade de curtir a arte urbana de sua cidade. Aprecie, fotografe, divulgue e enalteça o trabalho dos artistas de rua. Para concluir, adaptamos um verso de uma música dos Titãs: “A gente quer (café,) comida diversão e arte”.
Créditos: João Guilherme Bandeira e arquivo pessoal.
Colaboração: Giuliana Bastos.
PDG Brasil
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