Invenções made in Brasil. A inovação e a criatividade se encontram no café
Diz-se que a criatividade é uma característica enraizada na cultura brasileira e a prova disso é o nosso espírito empreendedor. O Brasil hoje ocupa isoladamente o 1º lugar entre as nações que mais empreendem (8 pontos percentuais à frente do segundo colocado) e 34,5% da população está envolvida com a criação de novos negócios no país. Esses dados constam na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP).
Outro indício nesse sentido é o fato de que há diversos itens que estão ou estiveram presentes na vida de pessoas em todo o mundo e foram idealizados por brasileiros. Entre eles estão o rádio, inventado pelo padre Landell de Moura (que não registrou sua criação e viu sua ideia ser creditada a Guglielmo Marconi ou, eventualmente, a Nikola Tesla), e a radiografia, que foi desenvolvida pelo médico Manoel de Abreu, além da polêmica em torno da invenção do avião, cuja paternidade é disputada por Alberto Santos Dumont e pelos irmãos Wright.
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Facilitando a inovação
Segundo dados apresentados pela ANI – Associação Nacional de Inventores, foram registradas mais de 35 mil novas patentes desde a fundação da instituição, no ano de 1992. De acordo com sua diretora executiva, Daniela Mazzei, a função da instituição é atender tanto os inventores quanto empresas que promovam adaptações ou melhorias em equipamentos já existentes, apoiando a inventividade e promovendo sua viabilidade econômica ao dar condições para o registro das patentes e das marcas, assim como o auxílio na criação de estratégias comerciais, na captação de recursos e até mesmo na divulgação para que os novos produtos possam chegar ao mercado com chances concretas de serem aceitos pelo público.
“Nosso foco na ANI é promover o conhecimento sobre a importância do registro das invenções para que essas mentes criativas possam realmente se beneficiar de sua criatividade. Sem o devido registro das patentes e de uma marca para o produto, o criador está sujeito a ver o resultado de seu trabalho gerar receita para outras pessoas e não para ele. Há inúmeros casos na história de inventos que foram creditados a terceiros em vez de trazer fama às pessoas ou empresas que desenvolveram esses produtos”, diz Daniela. Ela é filha do fundador da ANI, que ainda é responsável pelo único museu de invenções na América Latina.
Invenções do café e empreendedorismo
Os visionários de espírito empreendedor podem contar ainda com o apoio do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que, por meio de programas como Sebrae Like a Boss, Catalisa, Inovativa e Brasil Mais, presta importante auxílio para o aprofundamento da cultura empreendedora no Brasil.
O órgão, por meio do programa Catalisa, vem apoiando pesquisas com potencial de inovação voltadas à cadeia produtiva de café, tais como: desenvolvimento de modelagens preditivas de parâmetros fitossanitários e nutricionais para a cultura do café; tecnologia agrícola de precisão para agricultura sustentável de café; produção de embalagens reaproveitando resíduos (casca e borra) do café; composto antifúngico sustentável para o controle da ferrugem na produção orgânica de café; desenvolvimento de produtos à base de extratos do fruto do café verde destinado à indústria de fármacos e cosméticos, entre outros. A analista de inovação Hulda Oliveira Giesbrecht acrescenta: “O Sebrae, em parceria com vários players do ecossistema nacional de inovação, tem soluções para ajudar o empreendedor, desde o surgimento da ideia, e durante toda a jornada de desenvolvimento da inovação e escalagem do negócio. Tem também soluções para ampliar a produtividade e melhorar a gestão da empresa”.

Ousadia e criação das invenções brasileiras
Dentre os exemplos de produtos inovadores voltados para o consumo de cafés especiais lançados recentemente, um dos que merecem destaque é o método de preparo Koar, criado pelo empresário Fernando Sá, com contribuições dos parceiros que foram se envolvendo com o projeto ao longo da trajetória de desenvolvimento do produto: Filipe Santiago, Lidiane Santos e Juscelino Bourbon.
Recordando os primórdios da criação do Koar, Fernando lembra que a ideia original nasceu quando ele ainda dava os primeiros passos em direção ao conhecimento sobre cafés especiais, ao realizar cursos de barista e de cupping. “Foi aí que resolvi desenvolver algo que me trouxesse resultado semelhante utilizando filtro de papel cônico, muito mais fácil de encontrar. Eu tinha uma impressora 3D, que estava com defeito. Lembrei, então, que Filipe também tinha uma e comentei com ele sobre a ideia, que o deixou entusiasmado. Fizemos uma série de tentativas até que uma delas deu certo e então, seguindo os parâmetros, fiz um modelo de cerâmica. Ele se saiu muito bem e então comecei a fazer mais, para vender de um jeito bem informal mesmo, para amigos e familiares”. Mas aí a coisa começou a ficar séria. Foi quando entraram Lidiane e pouco depois Juscelino na história, cada um em seu devido momento e tudo por volta de 2017”, diz o fundador.
Segundo Fernando, muito desse reconhecimento se deu por conta das parcerias que foram surgindo desde o desenvolvimento do protótipo inicial. “Olhando lá pro começo, muita coisa incrível aconteceu de forma espontânea. Em 2018 teve a realização de etapas finais de campeonatos mundiais de baristas no Brasil, durante a Semana Internacional do Café. Eu tinha prontas 280 unidades pra vender durante o evento. Veio o Edgard Bressani e levou sozinho 250 delas para distribuir como brinde aos jurados do evento. As 30 restantes eu vendi na metade do 1º dia de evento! Depois até o final não tinha mais um coador pra vender (risos). Teve também a Copa Koar, uma ideia da Gelma Franco em 2019 e que atualmente conta com etapas em praticamente todo o país”.
Hoje, além dos modelos de cerâmica originais, estão disponíveis modelos em porcelana, acrílico e inox – que proporcionam diferentes experiências de preparo para os apreciadores do café, assim como possibilitam que públicos com diferentes perfis de poder aquisitivo possam ter acesso ao método. Além dessas versões, a empresa disponibiliza alguns acessórios, como o decanter de vidro que acomoda a bebida já preparada de forma bastante charmosa, os anéis de silicone para suavizar o contato dos coadores com os recipientes, uma bolsa de couro para transporte, xícaras exclusivas e uma válvula para ser usada em conjunto com o Koar feita do mesmo metal, adicionando assim mais uma variável de controle e personalização da extração da bebida.

Planejamento e democratização
Outro produto 100% brasileiro e inovador é a cafeteira Pressca, que à primeira vista pode parecer uma versão modernizada de uma prensa francesa, mas vai muito além disso. Quem conta mais detalhes do desenvolvimento desse método ao PDG Brasil é Ciro Pereira, diretor da operação na empresa Naxos, fabricante do produto. “Esse produto nasceu de um conceito inovador que nos foi trazido pelo barista Gérson Prates Amaro, que desenvolveu o protótipo e saiu atrás de empresas interessadas. Foi assim que chegou à Naxos e nós percebemos que se tratava claramente de uma grande oportunidade, um tanto diferente do nosso perfil habitual de produtos mas chamava atenção. Então adquirimos o direito de produção e comercialização do que passaria a ser a Pressca.”
Na mesma época, Ciro participava de uma feira em Chicago e ali teve o primeiro contato com o universo dos cafés especiais. “Quando vi que uma área inteira de um evento enorme era dedicada a esse segmento, percebi a força que o café tinha. Voltei ao Brasil determinado a tocar o projeto da nova cafeteira. Foi então que resolvemos criar uma operação separada, desvinculando-a do pool de produtos tradicionais da Naxos e criando uma identidade própria. Foi aí que a Pressca nasceu, de fato.”

Nos 4 anos que se sucederam entre esse contato inicial e o lançamento da Pressca em 2016, foram realizadas pesquisas de mercado, registro da marca e da patente, padronização e adequação do design do produto, tudo para garantir que a Pressca fosse o mais viável possível desde sua origem. “Nossa empresa tem expertise na produção de itens de utilidade doméstica de baixo custo, para operar na venda de grandes volumes no varejo de massas em todo o território nacional. Não faria sentido colocar esse produto no meio desse catálogo. Então tivemos que criar um novo segmento, do zero, e elaborar uma abordagem totalmente diferente para conseguirmos posicionar esse item onde ele teria aceitação imediata”, conta o diretor.
Hoje, Pressca é uma marca que compreende muito mais do que apenas a cafeteira, apresentando ao público balança, coador de pano individual, chaleira bico de ganso, espumador de leite e um identificador de tons de torra de café. Todos a custo mais acessível, com objetivo de democratizar o acesso aos cafés especiais, ajudando a alargar a base de consumidores e fugindo do estereótipo elitizado que ronda a maioria dos produtos voltados para a área disponíveis até então no mercado.
Ciro diz ser um entusiasta do paradigma da abundância e que isso, de certa forma, exerce influência sobre a atuação da empresa no mercado. “Quero oferecer o máximo de diversidade e de variedade para o consumidor. Meu desejo é que o máximo de pessoas tenha condições de chegar aos meus produtos. E, junto com isso, vamos compartilhando informação e ajudando a educar o público consumidor de cafés, criando cada vez mais a consciência da importância da escolha de grãos de mais qualidade. Daí pra frente, se alguém que entrou nesse meio através da Pressca tiver interesse em conhecer mais, em ter outros métodos de preparo, é uma vitória para todos”, afirma Ciro.

Entre as mais recentes invenções destacamos também os produtos da Bravo Acessórios de Café, que já são comercializados em todo o mundo. Exemplos como esses apresentados acima demonstram o potencial que o empreendedorismo brasileiro tem para gerar resultados sólidos para a economia como um todo e para o setor de cafés especiais no Brasil.
Créditos: Divulgação Pressca (destaque, chaleira bico de ganso e estande em feira); Fernando Sá/Divulgação Koar (Copa Koar, métodos).
PDG Brasil
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