25 de janeiro de 2022

Guia de Cafeterias: São Paulo (SP) – Centro

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Pode-se dizer que São Paulo é referência quando falamos de cultura de café no Brasil. Não a cultura dos produtores, da terra, da roça, mas a cultura urbana, de consumo, apreciação, encontro em meio a xícaras e mais xícaras, muitos quitutes para acompanhar e, claro, os pontos de encontro, charmosos, peculiares, acolhedores ou apenas para uma parada rápida após o almoço. São Paulo, é verdade, é a cidade que não para e, acreditem, ela precisa de café.  

Pode ser que seja por isso, mas também por uma paixão pela gastronomia e pelo bem-viver à mesa, que, das origens históricas à atual cena repleta de cafeterias de terceira (e até quarta) onda, São Paulo não deixa a desejar a nenhuma metrópole no mundo quando se trata de café.   

Para celebrar o aniversário desta cidade altamente cafeinada, o PDG Brasil traz um pouco da relação histórica da capital paulista com o café, das primeiras cafeterias e um roteiro selecionado de cafeterias localizadas no centro histórico da cidade. Apenas um dos muitos roteiros que a cidade nos oferece. 

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Um pouco de história

São Paulo foi desde o século 19 uma cidade permeada pelo café. Pode-se dizer até que a cidade existe como uma potência graças ao produto. A economia cafeeira é uma das grandes responsáveis por ter tornado a pequena vila em um dos principais polos econômicos e culturais do Brasil. 

Situada entre regiões produtoras no interior paulista e o Porto de Santos, responsável pelo escoamento da produção para todo o mundo, São Paulo passou a ser o local onde a riqueza gerada pelo café foi aplicada. A vila começou a assistir a construção de mansões dos barões e toda uma vida cultural e social, com teatros, museus e outros edifícios icônicos como Martinelli, Guinle, Centro Cultural Banco do Brasil, Largo do Café, Palácio da Justiça, todos no centro antigo da capital. 

O café tem uma presença tão marcante no centro da capital paulista que a Prefeitura Municipal de São Paulo aborda em alguns tours esse valor histórico e cultural do produto na cidade e também promove eventos. Um deles é o Festival do Café no Triângulo SP, que reúne dezenas de cafeterias, profissionais e apreciadores em torno de atrações culturais e promoções. 

“O café contribuiu muito para moldar a história econômica da cidade e ainda hoje é um vetor importante para a gastronomia e o turismo. Por causa desta história e pela concentração de escritórios e órgãos públicos na região, diversas cafeterias foram instaladas e isso deu origem ao Festival do Café no Triângulo SP”, explica a Secretaria de Turismo da Prefeitura ao PDG Brasil

Eles contam que as ações foram interrompidas por conta da pandemia, mas que já estão sendo formatadas novas propostas de ativação da região do Triângulo, para que os turistas possam explorar as opções de gastronomia, cultura e comércio local.  

café especial

Primeiras cafeterias de São Paulo

Essa relação íntima com o produto trouxe à cidade também uma cultura de consumo bastante presente no dia a dia dos paulistanos. Alguns historiadores relatam o sucesso que faziam as vendedoras de café do centro da cidade. Com pouca estrutura, mas muitos clientes, Maria da Punga, Umbelina e Maria Café podem ser consideradas talvez as primeiras “baristas” da capital paulista. 

A jornalista e mestre em História Social pela USP Viviane Aguiar conta em seu site “Lembraria” que as bancas das três mulheres eram frequentadas por políticos, comerciantes das redondezas e estudantes da Academia de Direito do Largo São Francisco e foram registradas em dezenas de livros de memórias desses clientes. Na época, o centro ainda era um pequeno núcleo urbano, restrito aos arredores da Sé e, aos poucos, cafés de estilo europeu foram ganhando espaço.  

O café de Maria Punga (Maria Emília Vieira), criado em 1850, ficava na esquina da rua Quinze de Novembro com a atual rua Anchieta e era uma casinha de taipa de fachada verde. Negra, de turbante na cabeça e brincos de argola, dizem que tinha bom papo, mas era rigorosa com o ritual do café, que moía no pilão e preparava no coador de pano. Além da bebida, servia biscoito de polvilho saído do forno a lenha o dia todo, bolo de fubá e cuscuz de bagre, quitutes típicos dos tabuleiros das escravas. 

“Servia o café em grandes xícaras brancas a 40 réis cada. Ela mesma torrava e moía o café, mas o segredo devia estar na hora de coar, pois somente coava e servia três xícaras de cada vez. Se chegasse alguém para tomar café, tinha de esperar mais dois fregueses para então todos serem atendidos. Enquanto esperavam, conversavam e comiam bolo de fubá, broinhas de polvilho ou bolinhos de tapioca.”

Conheça a seguir uma seleção de cafeterias que herdaram essa paixão por servir café no centro de São Paulo. 

café no centro sp

Caffè Latte

Cafeteria pioneira em cafés de qualidade no centro da cidade, o Caffè Latte fica no calçadão, quase em frente à Bolsa de Valores, instalado em um edifício tombado do século 19, próximo ao Largo do Café. É daqueles lugares que convida a ficar e a revisitar inúmeras vezes. O atendimento é atencioso e, a cada café, demonstra a seriedade do projeto e o prazer em servir boas xícaras. Não à toa, a empresa cresceu e atualmente conta com cinco unidades: duas no centro, uma na Lapa, uma na Vila Mariana e uma próxima à Avenida Paulista.  

Em um espaço acolhedor, com mesas, balcão e sofás, apresenta desde 2004 uma carta variada de cafés, sempre especiais, atualmente com uma torra feita por eles mesmo na unidade Piccolo. Um cardápio amplo, com pratos rápidos, saladas, brunch, crostini, torradas especiais e boa variedade de quitutes, atrai um público bastante diversificado, formado por turistas, executivos e apreciadores que frequentam a região central da cidade. Para beber, a dica é pedir o café em um dos diversos métodos oferecidos na casa, incluindo o Koar (método 100% brasileiro) e a Clever. 

Sobre estarem no centro histórico de São Paulo, Roseli Fila, uma das proprietárias, afirma: “O centro é um lugar pulsante em todo o mundo. Em uma metrópole como São Paulo não seria diferente. A diversidade, o turismo e a beleza de seus edifícios compõem o que há de melhor para o que buscamos: prazer, boa comida e bons cafés”.

café sp

Caffè Latte Piccolo

Bastante diferente da matriz, a poucos metros, o Piccolo é a nanocafeteria do Caffè Latte. Inaugurada em fevereiro de 2020, esta unidade é bastante simpática e ideal para um café rápido. Em um espaço diminuto, os queridos proprietários Vitor Sapolnik e Roseli Fila conseguiram montar uma microtorrefação e um balcão que recebe bem clientes em busca de cafés de qualidade e quitutes rápidos. O atendimento é atencioso e ágil e a oferta de bebidas com café, variada. Os preparos incluem, além do espresso (sempre bem tirado), cafés coados na Hario V60 e na batch brew (Bunn), prensa francesa e Aeropress, com grãos como o Wolff W0 (espresso), da Fazenda Três Marias, localizada em Monte Carmelo (MG), e o blend Projeto Curupira, da Fazenda Ambiental Fortaleza (métodos).

Para os dias mais quentes, as sugestões são o espresso tônica e o Caramel Cold Brew. Embora pequenina, a cafeteria consegue oferecer ainda um cardápio bem cuidado e que atende a diversos paladares. Pão de queijo, broa, empanada, bolo caseiro estão entre as comidinhas disponíveis. Ah, uma dica é descobrir o dia em que torram o café para acompanhar esse ritual delicioso bem de pertinho. 

cafeteria tradicional

Giramondo Caffè

Aldo De Rosa tem lembranças de sua infância com o café. A nonna torrava e moía os grãos em casa, e o preparo tinha todo um ritual na moka, típica cafeteira italiana. O moedor tinha de estar bem amolado, se não a nonna reclamava e falava que não servia mais pra café. A família, que veio da Itália para fugir da guerra, trouxe consigo a paixão pela bebida. Aldo, o neto, herdou essa intimidade com o grão e segue um aficionado. Por isso, em 2003, inaugurou a Giramondo Caffè, cafeteria instalada em um pequeno espaço no centro de São Paulo, a duas quadras do Teatro Municipal, bem próximo também da Biblioteca Municipal e das estações de metrô Anhangabaú e República.   

Colecionador de mokas, Aldo une em sua cafeteria os hábitos familiares com estudos e experiências profissionais pelas quais passou em Firenze, na Itália. Seu foco, como não poderia deixar de ser, é o espresso, extraído da mesma forma há 16 anos por Jane Novais, barista da casa, ou pelo próprio Aldo em uma clássica Cimbali. Os grãos são gourmets, da marca Selo Verde, sempre com 82 pontos ou mais. É possível levar o café para casa em grãos ou moído na hora, com o bônus de ter explicações de como preparar dadas pelo próprio Aldo. 

mortadela

Para comer, a dica é pedir o lanche de mortadela, em que o embutido é fatiado na hora e finalizado com um molho de pimenta feito pelo próprio Aldo, ou o Rivello (cidade de seu pai), com berinjela marinara, produzida na casa, cozida no sal, queijo branco e patê de salsa, servidos na baguete ou no pão italiano. Na ala dos doces, destaque para o carro-chefe: a torta de ricota com goiabada, preparada com todo esmero pela dona Ana, que Aldo conhece há 40 anos. Vale provar também a torta de banana do seu Olavo, morador do Copam que fornece para o Giramondo também há anos. 

O famoso balcão, frequentado por políticos, artistas e frequentadores do centro já serviu gente como Antonio Ermírio de Moraes, secretários municipais, diversos presidentes da OAB e até cantores de ópera do Municipal, que chegaram a ensaiar uma cantoria no singelo espaço. Atualmente, a casa conta com mesas na calçada e está preparando mais mesas para um novo projeto, que oferecerá, em breve, refeições no final de semana.  

Aldo tem um orgulho imenso de estar no centro da capital paulista. “É a coisa mais intensa do mundo. Uma relação de amor. Tem cliente que começa a falar mal do centro, e eu não admito. Tudo na cidade converge para cá. Vamos conseguir recuperar esse lugar. Aqui tem história, aqui tem seres humanos. A Giramondo é paulistaníssima. Seria uma traição eu sair do centro.”

girondino café

Girondino

Um dos grandes clássicos do centro paulistano, o Girondino existe desde 1875, quando foi inaugurado na rua Quinze de Novembro. Desde 1998 está na rua Boa Vista, próximo ao Páteo do Colégio, ainda inserido no chamado Triângulo SP, entre os Largos de São Bento, Sé e São Francisco. Em cada detalhe da casa, da fachada à ambientação, é possível perceber marcas de mais de um século de história. 

Mesclando nostalgia e modernidade, o Girondino tem vocação múltipla, sendo daquelas cafeterias que recebem desde profissionais da região que querem apenas um café rápido para animar a próxima jornada ou fazer uma reunião de negócios, a famílias que estão passeando pelo centro ou apreciadores que querem desfrutar de um café em uma pausa no ritmo acelerado da cidade. Recentemente assumiram a operação da cafeteria do Centro Cultural Banco do Brasil, ganhando um outro aspecto: atender o público das exposições e atrações de um dos principais espaços culturais do país.  

pudim de leite café

Ali pode-se pedir o clássico espresso, preparado pelas baristas Talita Scalabrini e Gerlene Alexandre, feito com grãos especiais com notas de caramelo e toque frutado. Além da bebida, costumam fazer sucesso entre os clientes o Cappuccino de Gengibre (espresso, mel, gengibre em pó, leite vaporizado e açúcar mascavo) e o Gelado do Comércio (espresso, sorvete de chocolate europeu, Ovomaltine e chantilly). Para acompanhar a dica são os grandes hits o pudim paulista (foto) e o tradicional arroz doce, um dos mais pedidos desde o início da casa. 

O gerente comercial da casa, Fellipe Nunes, considera um “privilégio estar em um lugar com tanta história e ao lado de tantos pontos turísticos”. “Quando viajamos para qualquer lugar do mundo, queremos conhecer os seus centros, sua história. Em São Paulo não poderia ser diferente. Estamos próximos de diversos locais turísticos e históricos maravilhosos. Sem contar a proximidade com o maior shopping a céu aberto do Brasil, a rua 25 de Março. É incrível fazer parte dessa história e poder proporcionar boas experiências aos frequentadores do centro de São Paulo.”     

vista do centro

Espaço Priceless

Se a ideia é um pouco de exclusividade, vale conhecer o Espaço Priceless. Instalado no terraço (rooftop) do Shopping Light, ao lado do Teatro Municipal e com uma entrada exclusiva pela garagem do shopping (com entrada na Rua Formosa, 157), o local é um projeto da Mastercard que propõe uma experiência gastronômica em pleno centro paulistano. O complexo gastronômico reúne restaurante, bar, espaço cultural e um ponto de café. 

Não é uma cafeteria propriamente dita, mas inclui o que a casa está chamando de “ponto de café”, um carrinho onde são preparadas xícaras de café especial, que podem ser apreciadas em todo o espaço. Não há cardápio de comidinhas para acompanhar o café, mas vale a visita para degustar um café assinado pelo barista campeão Boram Um com uma bela vista do centro e do teatro, em um terraço agradável que acomoda até 60 pessoas. Além de fazer a curadoria dos cafés de cada temporada, Boram é embaixador dos cafés do projeto e parceiro criativo. O horário de funcionamento do ponto de café é das 12h às 20h. Para entrar no espaço, é preciso estar com o sistema vacinal completo. 

cafeteria copan são paulo

World Café Bar

Chef de cozinha, Raimundo Vieira de Oliveira resolveu investir em sua paixão pelo café e por São Paulo inaugurando uma cafeteria despojada e charmosa no térreo do Copan. Aberta em meio à pandemia, em julho de 2020, a empresa tem realizado seu propósito de oferecer boas comidinhas e bom café em um espaço que convida a bons momentos. 

Parte do circuito de cafeterias que aderiu ao projeto Roastelier, da Nescafé, propõe uma experiência diferente (e moderna) para os clientes, sendo possível acompanhar a finalização da torra de cafés especiais ao vivo e ainda adquirir grãos do Brasil, da Colômbia e da Etiópia em embalagens personalizadas. 

Os cafés do projeto também podem ser degustados no local, em bebidas diversas preparadas pelo barista Ricardo Moura de Oliveira. Duas das que mais fazem sucesso são o Irish Coffee da Casa, com um toque de licor de canela, e o Iced Coffee de Baunilha. Se a ideia é apreciar um café sem firulas, há espresso e coado na V60. No cardápio, além de beliscos doces e salgados, conta com pratos como o filé mignon ao molho mostarda e a berinjela à parmigiana.  

Para Raimundo, estar no centro de São Paulo, “é uma experiência muito prazerosa”. “Ficamos no térreo do Edifício Copan, um ícone da história da arquitetura brasileira e um marco de São Paulo. Isso nos aproxima da história da cidade e também do café. Além disso, aqui temos um público diversificado. Podemos oferecer uma gama bem versátil de produtos, tanto para um público jovem, sempre em transformação, quanto para um público mais maduro, que busca opções mais clássicas.”   

café especial

Para além desta seleção, o centro de São Paulo guarda inúmeros outros endereços que valem a visita, seja para apreciar uma bela xícara, para conhecer a história do café ou apenas para ver o movimento da cidade. Há opções para todos os gostos, espaços menores e maiores, fechados e com vista, com mesas na calçada ou charmosos salões de estilo clássico. Espressos, coados, drinques elaborados e até café sendo torrado em meio ao maior centro comercial de uma das maiores cidades do mundo. Tem de tudo um pouco, mas tudo com café… na xícara, na cultura ou na paixão.

Créditos: Wesley Diego Emes (Espaço Priceless/Teatro Municipal e Rooftop); Divulgação Girondino; Divulgação Giramondo; Divulgação Caffè Latte; Divulgação World Café Bar.

PDG Brasil

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