Torrefação sustentável. Explorando o impacto ambiental da torra do café
Existem mais de 2.000 empresas de torrefação de café somente nos Estados Unidos. Muitas delas estão conscientes do crescente foco do consumidor na sustentabilidade, tanto em termos da cadeia de suprimentos do café quanto do meio ambiente. Mas quantas delas poderiam se definir como uma torrefação sustentável?
Apesar de um foco cada vez maior de todo o setor na obtenção de café ético, orgânico e ecológico, o impacto ambiental de outras partes da cadeia de abastecimento pode às vezes ser negligenciado. Isso inclui a torrefação do próprio café.
No entanto, nos últimos anos, houve um movimento em direção a uma melhor eficiência energética e tecnologia mais sustentável em torradores. Para saber mais sobre isso, conversamos com Dennis Vogel, da Loring, e Ram Evgi, da Coffee-Tech Engineering. Continue lendo para descobrir o que eles disseram.
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Quais são as questões ambientais para os torradores?
Há uma série de preocupações ambientais com a torrefação do café. Junto com as emissões de carbono e outros gases perigosos liberados como subproduto da combustão do combustível na torrefadora, a torrefação do café também gera fumaça e outras partículas prejudiciais. Essas emissões podem ser perigosas para quem opera ou trabalha perto da torrefadora, além de contribuir para a poluição dos gases de efeito estufa.
Ram Evgi é o CEO e fundador da Coffee-Tech Engineering, com sede em Israel. “Os danos ao meio ambiente são causados pelo que retiramos do duto”, conta.
“No entanto, o dano mais imediato pode acontecer ao próprio mestre de torrefação e a qualquer coisa que esteja exposta na área ao redor.”
Em todo o setor cafeeiro, marcas como Coffee-Tech Engineering e fabricantes de torradores monitoram os níveis dessas emissões há algum tempo. Dennis Vogel é o diretor de Marketing e Vendas da Loring, um fabricante de torradores com sede na Califórnia.
Dennis diz: “Os torradores tradicionais produzem emissões visíveis (ou seja, fumaça), odores e poluentes como óxido de nitrogênio, monóxido de carbono, compostos orgânicos voláteis e dióxido de carbono, a menos que um sistema de filtragem ou pós-combustor externo seja usado.
“Além disso, os pós-combustores também consomem combustível, que geralmente é gás natural ou gás liquefeito de petróleo (normalmente propano).”

O que causa esses problemas?
Para simplificar, existe uma espécie de “atraso” quando se trata de inovação na tecnologia de torra. Passar por processos como design, prova de conceito e fabricação até a distribuição e uso generalizado pode levar anos.
Muitos torrefadores de cafés especiais começaram usando (e ainda usam) máquinas que foram originalmente projetadas em meados do século XX. Muitas dessas máquinas originais foram recondicionadas, atualizadas ou mesmo relançadas para atender às novas demandas de qualidade, consistência, tamanho do lote e qualidade estética.
No entanto, na época em que essas máquinas foram inicialmente projetadas, as mudanças climáticas e a biodiversidade não estavam tão no topo da agenda global. Os regulamentos de emissões eram muito mais flexíveis, e o impacto ambiental do torrador não era uma prioridade.
Ram também diz que existem certas “falhas de projeto” estruturais que são responsáveis pela maioria das preocupações ambientais na torrefação do café.
“Uma questão importante que é regularmente esquecida é a própria estrutura da máquina”, diz ele. “Isso está relacionado a muitos aspectos diferentes, incluindo segurança do usuário, eficiência, consistência e precisão.”
“A maioria das máquinas com capacidade de lote de até 100 kg ainda utiliza uma caixa de tambor atmosférico de estrutura aberta. Isso significa que o queimador está operando na mesma atmosfera da sala, aspirando o ar preliminar por si só, em vez de em uma estrutura vedada com condições subatmosféricas.
“Isso efetivamente significa que cada emissão que sai do queimador também se espalha para o espaço de torrefação.”
Em comparação, Ram diz que os torradores “mais ecológicos” contemporâneos (como os usados pela Coffee-Tech Engineering) podem isolar essas emissões dentro da máquina. Isso protege o ambiente ao redor do torrador (incluindo o operador) e dá à máquina mais tempo para decompor esses gases nocivos. Isso efetivamente “limpa” as emissões.
Esse processo de isolamento também tem o benefício secundário de absorver a energia térmica do ar emitido, para manter a máquina aquecida. Isso melhora a eficiência energética para torrefação contínua, tornando a torrefadora ainda mais sustentável.

Você pode consertar seu torrador?
A maioria dos torrefadores é treinada em um determinado modelo ou máquina ao longo de anos de prática. Cada torrador é diferente, e a mudança de modelos pode tornar inúteis seus perfis de torra pré-gravados, ajustados com precisão, se eles não forem convertidos corretamente para o sistema de uma máquina nova em folha.
Além disso, os torradores geralmente representam um investimento alto para pequenas e médias empresas. Um bom torrador comercial pode ser difícil de encontrar por menos de US$ 10 mil (no Brasil, os de 5 kg saem cerca de R$ 40 mil). Para quem procura tecnologia de torrefação de ponta, que não cause danos ao meio ambiente, é provável que esse valor saia muito mais caro.
Assim, para muitas empresas, a solução é iniciar a torrefação consertando uma máquina existente, em vez de comprar uma nova. Apesar disso, Ram diz que converter seu torrador para torná-lo mais “verde” é mais simples na teoria do que na prática, especialmente para modelos mais antigos.
“Nem sempre vale a pena o esforço”, explica Ram. “A maioria das máquinas tradicionais usa uma caixa de tambor atmosférica aberta (que libera as emissões para a sala, como mencionado anteriormente) e nenhuma câmara de combustão real. Isso significa que ele continuará compartilhando qualquer coisa que aconteça dentro da máquina com a sala em que está.”
“O queimador pode ser atualizado ou alterado, como muitas outras peças, mas a qualidade da máquina não se resume tanto aos acessórios. Está mais no seu design inicial e na sua estrutura orgânica.”
Ram usa a analogia da compra de um carro novo para explicar seu ponto: “Adicionar freios antibloqueio ou pneus modernos vai ajudar, mas não há nada melhor do que a geometria da suspensão moderna e a distribuição de peso ideal”.

Uma nova geração de torradores
Atualmente, o impacto ambiental da cadeia de abastecimento do café está se tornando, com razão, uma questão mais relevante. A pesquisa da Forbes mostra que os consumidores estão mais propensos a serem leais a marcas sustentáveis. Dessa forma, os torrefadores que assumem um compromisso com a sustentabilidade têm mais probabilidade de ver a fidelidade à marca de clientes de varejo e atacado.
Nos últimos anos, isso gerou um movimento em direção ao design e à fabricação de vários torradores eficientes em termos de energia ou “verdes”. No entanto, a tecnologia usada nesses designs mais recentes não é necessariamente nova ou revolucionária; a forma como está sendo usada é onde reside a inovação.
Dennis me disse que Loring reconheceu esse desafio a partir do retorno que teve dos próprios clientes. “O feedback que recebemos de nossos clientes indica consistentemente que a sustentabilidade ambiental e a qualidade do ar estão entre os principais desafios que eles enfrentam”, diz ele. “São mestres de torra que também valorizam a responsabilidade ambiental, o que significa que menores emissões e consumo de combustível fóssil os levam a escolher nossos torradores.”
Ele diz que há um projeto específico que Loring usou para criar uma máquina mais ecológica.
“Nossos torradores utilizam um único queimador para torrar o café e incinerar a fumaça criada durante o processo de torra”, diz ele. “Isso essencialmente elimina a necessidade de uma pós-combustão externa.”
“Além disso, ao recircular o ar através de nosso sistema de circuito fechado, menos energia é necessária para aquecer o ar já quente até as temperaturas de torra ideais, enquanto os sistemas tradicionais devem usar mais energia para [fazer isso].”
No entanto, embora os modelos mais novos estejam ganhando espaço no mercado, Ram diz que isso não se deve tanto ao aspecto sustentável desses equipamentos. Ele também diz que os números nem sempre são precisos, o que significa que pode ser difícil fazer com que os clientes reconheçam o benefício financeiro de uma torrefadora com maior eficiência energética.
“Não é simples prever o consumo de gás baseando-se em um folheto, e nada fácil fazer a medição”, diz ele. “Além disso, embora algumas máquinas não produzam fumaça, graças ao seu sistema interno de recirculação de gás, esse não é um desenvolvimento novo. Foi inventado na década de 1980 e adotado por poucas outras empresas [desde então]. ”

Embora os torradores tradicionais possam ser atualizados para se tornarem mais eficientes em termos de energia, a estrutura completa dos modelos mais antigos é um aspecto mais problemático do que componentes ou recursos específicos. Acrescente a isso o fato de que os torradores são investimentos significativos para qualquer pessoa ou empresa, e fica claro que a escolha de usar um torrador “verde” nem sempre é simples.
Apesar disso, o número de torradores com eficiência energética surgindo no mercado demonstra um passo na direção certa. O intervalo de tempo e o investimento necessários significam que podemos ver os benefícios dessa mudança apenas no longo prazo, mas a inovação está aí. Embora não vá acontecer da noite para o dia, a torrefação de café mais ecológica é uma possibilidade – e pode economizar dinheiro aos torrefadores, ao mesmo tempo que reduz sua pegada de carbono.
Créditos das fotos: Coffee-Tech Engineering.
PDG Brasil
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