Temporada de colheita: como a falta de manutenção pode afetar a qualidade do café
No dia a dia da fazenda, acabamos não reparando em alguns detalhes como a manutenção e a limpeza de maquinários, terreiros e caminhões. Mas qual é a importância disso em meio a tantas tarefas essenciais à operação de uma fazenda em tempo de colheita?
O PDG Brasil conversou especialistas no tema para entender até que ponto esses cuidados são relevantes para a segurança da sua propriedade e de seus colaboradores e para a qualidade do seu café.
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MANUTENÇÃO E PREVENÇÃO
Supervisor de assistência técnica da Pinhalense, Daniel Lino trabalha nesse segmento há 27 anos. Para ele, “é de extrema importância a realização da manutenção preventiva de qualquer equipamento”. Segundo ele, sem a manutenção corretiva, uma única peça danificada pode trazer ao equipamento um efeito dominó.
Especialista no tema, Daniel dá o exemplo de um rolamento danificado. “É só um rolamento, mas ele pode estragar o eixo e, consequentemente, outras peças. Por fim, a falta de manutenção pode causar até incêndio, dependendo do caso”, conta. Algo que pode trazer risco inclusive para os trabalhadores e trabalhadoras da fazenda.
Além de eficiência e segurança, a manutenção pode significar economia. Daniel explica que zelar e preservar o equipamento pode ajudar ainda na redução de gastos com peças para reposição e evitar desgastes maiores.

SEM MANUTENÇÃO, RISCO DE CONTAMINAÇÃO
José Rezende, um dos sócios da Capricornio Coffees, traz à tona outro aspecto essencial da manutenção. Para ele, é preciso se atentar aos cuidados com maquinários, terreiros e caminhões para que não interfiram em todo o trabalho de qualidade realizado durante a safra no cafezal.
Provador e classificador de café pelo MAPA e Q-grader, Bispo, como é conhecido, trabalha com café há 20 anos e participa do Projeto Quatro Estações, da Capricornio. No projeto, ele e uma equipe orientam os cafeicultores a respeito de diversos temas, entre eles os cuidados com equipamentos e terreiros, por exemplo. Para Bispo, “deve-se ter responsabilidade na produção. Essa limpeza é muito importante para eliminar grãos, folhas, galhos de dias (e até safras) anteriores que ficam pelos caminhos do café durante o processo. Isso ajuda a mitigar o risco de contaminação indesejada”, defende. “Quando não tomamos esses cuidados, ficamos à mercê da sorte, e com grande risco de comprometimento da qualidade.”

CUIDADOS NOS EQUIPAMENTOS DA FAZENDA
Mas de qual equipamento é preciso cuidar? Daniel Lino explica que todos os maquinários requerem manutenção preventiva, mas os itens de mecanização de lavoura, via úmida, secagem e benefício merecem uma atenção maior, por serem muito utilizados durante a colheita e pós-colheita e por alguns trabalharem com água, que acelera alguns processos de oxidação e contaminação.
Derriçadeira, colheitadeira, moega, lavador, despolpador, elevadores, desmucilador e tanques de fermentação… tudo deve ser verificado. Durante a colheita, o cuidado deve ser intenso. “É preciso se atentar à limpeza e à lubrificação diariamente, caso contrário, o maquinário pode perder eficiência e gerar as manutenções das quais falamos”, explica Daniel.
A vantagem é que, muitas vezes, são manutenções que podem ser feitas pelo próprio cafeicultor ou cafeicultora. “Mas é importante ter uma orientação inicial do fabricante e, se houver reparos de maior complexidade como trocas de peças grandes ou soldas, pode ser necessária a mão-de-obra especializada”, alerta Bispo.

HIGIENE E QUALIDADE
Thiago Augusto Masaki Luiz leva o tema bastante a sério. Físico, Q-grader, especialista em qualidade (Preventive Control Qualified Individual), classificador e degustador e instrutor do Senar – MG, acompanha de perto o dia a dia de fazendas de café.
Responsável exatamente pelo plano de segurança do alimento de uma cooperativa, ele avalia como fundamental um bom planejamento que inclua a manutenção preventiva e higienização de todos os equipamentos, bem como a sanitização com hipoclorito onde possível nos equipamentos utilizados no pós-colheita. “A questão da higiene é extremamente importante. Há uma cobrança cada vez mais incisiva. Importadores dos Estados Unidos devem cumprir as exigências do FSMA/FDA (Food Safety Modernization Act/Food and Drug Administration). A instituição, que regula o setor de alimentos dos EUA, tem regras que requerem informações e monitoramento sobre toda a cadeia de suprimentos, o que pode incluir os produtores”, explica.
Classificadora e degustadora Q-grader da Coopfam (Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região), Rafaela Ferreira de Carvalho vê o tema sob a mesma perspectiva. Formada em Tecnologia de Alimentos e pós-graduada em Vigilância Sanitária e Qualidade de Alimentos, Rafaela faz parte de uma equipe da Coopfam que orienta os cooperados sobre diversos temas, entre eles, a manutenção e a limpeza na fazenda. “Os equipamentos estão em contato direto com o café, por isso podem influenciar diretamente na qualidade”, lembra.
“Por exemplo, grãos da última safra, que ficaram no pé de elevador ou em lavadores, podem contaminar o lote da nova safra, causando problemas de bebidas e de aspecto físico”, explica.
E mesmo a falta de manutenção pode impactar. “Uma máquina que quebra no período da safra, pode trazer atrasos na colheita, perdendo a janela de maturação ótima do café, podendo o grão secar no pé ou cair, trazendo prejuízos financeiros e perda de qualidade da bebida”, diz.
Thiago considera importante lembrar. “Somos parte do agronegócio. O café é um alimento e a segunda bebida mais consumida do mundo. Devemos tratá-la como tal.”

DICAS FINAIS PARA A MANUTENÇÃO DO MAQUINÁRIO
Em contato com os especialistas, podemos perceber que é de grande importância que os produtores e as produtoras de café se atentem para a manutenção e a higiene dos equipamentos.
O primeiro passo é fazer um bom planejamento de verificação diária. Limpeza, sanitização e lubrificação dos maquinários e análise do terreiro são alguns dos itens a serem lembrados. Essa rotina contribui muito para esses aspectos não interferirem na qualidade do café e na eficiência da operação da fazenda.
Conheça algumas dicas sobre este tema:
- Realize a limpeza diária dos equipamentos;
- Engraxe os equipamentos, conforme recomendações contidas no manual;
- Verifique a tensão das correias de tração periodicamente, como também o alinhamento das polias;
- Caso o equipamento contenha redutores, deve ser substituído o óleo conforme orientação do fabricante;
- Em caso de ruído anormal, o equipamento deve ser desligado imediatamente para análise;
- Verifique apertos de parafusos e porcas, evitando que peças trabalhem soltas, correndo o risco de danos em componentes do equipamento.
Seguindo algumas destas recomendações, o cafeicultor poderá garantir a segurança de seus colaboradores, proporcionar maior eficácia na rotina da propriedade e evitar a interferência de objetos estranhos, como grãos de outros dias ou outras safras, graxa e pó em meio ao seu café. Assim, garantirá o melhor grão nesta safra.
Créditos das fotos: Acervo Pinhalense, Acervo Capricornio Coffees
PDG Brasil
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